Nada me prende a nada.
Quero cinquenta coisas
ao mesmo tempo.
Anseio com uma
angústia de fome de carne
O que não sei que
seja,
Definidamente pelo
indefinido...
Durmo irrequieto, e
vivo num sonhar irrequieto
De quem dorme
irrequieto, metade a sonhar.
Fecharam-me todas as
portas abstratas e necessárias.
Correram cortinas de
todas as hipóteses que eu poderia ver da rua.
Não há na travessa
achada o número da porta que me deram.
Acordei para a mesma
vida para que tinha adormecido.
Até os meus exércitos
sonhados sofreram derrota.
Até os meus sonhos se
sentiram falsos ao serem sonhados.
Até a vida só desejada
me farta - até essa vida...
Compreendo a
intervalos desconexos;
Escrevo por lapsos de
cansaço;
E um tédio que é até
do tédio arroja-me à praia.
Não sei que destino ou
futuro compete à minha angústia sem leme;
Não sei que ilhas do
sul impossível aguardam-me naufrago;
Ou que palmares de
literatura me darão ao menos um verso.
Não, não sei isto, nem
outra coisa, nem coisa nenhuma...
E, no fundo do meu
espírito, onde sonho o que sonhei,
Nos campos últimos da
alma, onde memoro sem causa
(E o passado é uma
névoa natural de lágrimas falsas),
Nas estradas e atalhos
das florestas longínquas
Onde supus o meu ser,
Fogem desmantelados,
últimos restos
Da ilusão final,
Os meus exércitos
sonhados, derrotados sem ter sido,
As minhas cortes por
existir, esfaceladas em Deus.
(Álvaro de Campos – Lisboa Revisitada)
Humm, tão eu!
ResponderExcluirSempre Fernando Pessoa e "suas Pessoas"...
Abração!
uma beleza lírica q traduz uma alma angustiada ... mas quem de nós não tem um pouco de tudo isto, por pouco q seja, dentro de cada um ...
ResponderExcluirbeijão