quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Um Happy Birthday



Aí a pessoua tá fazendo 40 e fica pensando no 50. É o jeitinho dele, né! (rs) Há séculos que vem com essa de “40 por 25”... exageraaado! Acho que “20 por 10” já era de bom tamanho. Mas é aquilo, tem gosto pra tudo! (rs) Fato é que, supimpisticamente, hoje é niver do ermão. Gente finíssima, que aguenta os meus leros com paciência de monge budista.

E como ele solicitou uma festchinha-surpresa, organizada pelas zamigas, daqui a 10 anos, já fiquei imaginando como seria. De certo ele já estará casado, se dedicando firmemente aos afazeres domésticos, como um legítimo dono de casa, então aí vai... espero que tenha ficado do gosto! (rs)

FELIZ NIVER EDU ARDO!


terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Minhas Músicas Preferidas – “Lover of the Light”

Hoje resolvi criar esse novo marcador, no qual registrarei algumas músicas que considero as minhas favoritas. Como sou volúvel (rs), não tenho assim a primeira, a segunda, etc. Mesmo porque essa preferência sempre depende do meu estado de espírito.

Pra começar, vamos com essa do “Mumford and Sons”. Não sei o que mais me atrai... se a delicadeza da letra, ou o ritmo da música, que começa suave e vai, num crescendo, até explodir no final, num êxtase maravilhoso. Ou ainda o solo de um banjo épico que, no meio de uma parafernália eletrônica, mais uma orquestra, consegue se destacar na beleza do seu acústico. Ou ainda (rs) o refrão que cola absurdamente na minha cabeça. Enfim, só sei que, sempre que volto a ouvir, nunca é apenas uma vez.

E você, tem alguma música predileta? (kkkkkkkk)


Coldplay ou Bon Iver?

Acabou de sair do forno (rs) o vídeo da nova música do Coldplay. Basta ouvir que a questão, expressa no título desse post, surge automaticamente, né!

Alguém discorda? (rs)


Adote Um Positivo

Já em sua segunda temporada, a série brasileira “Positivos” (disponível apenas no YT), sobre a vida e dilemas de vários soropositivos (só vi o primeiro episódio... parece que está mais técnica... rs), a garotada que faz a série resolveu lançar essa campanha. Segundo a página oficial do FB: “A campanha "Adote um Positivo", lançada na ficção pelos personagens Caique (Tainã Freitas) e Bernardo (Pedro Quevedo), virou realidade e tem como objetivo lançar a ideia de 5 atitudes que podem ajudar a diminuir o preconceito em relação ao soropositivo e levar informações pertinentes sobre HIV/AIDS para a população.”

Achei deveras interessante esse “salto” da ficção para a realidade! O site oficial, com mais detalhes sobre a campanha ainda não está disponível. Apenas o vídeo introdutório (abaixo). Pra quem quiser seguir a página no FB, segue o link.


segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Aleluia!

Rejubilem-se, homens de pouca fé! (rsrsrs) Para quem achava que o mundo estava perdido e que não restava esperança... eia, pois, que anjos celestiais, entoando loas (rsrsrs), vêm anunciar as boas novas! Agora que abriu a porteira... que passe a boiada inteira! Metade do purgatório ascendeu aos céus... louvemos! (rsrsrs)


domingo, 23 de fevereiro de 2014

O Poeta do Folk



Gregory Alan Isakov é um cantor e compositor indie/folk, nascido em Johannesburg (1979), África do Sul. Foi ainda criança para Philadelphia (USA) e depois, por muito tempo, morou em várias cidades. Todas essas mudanças, suas viagens, acabaram por influenciar fortemente suas músicas. Há, em quase todas, a busca por um sentido da vida, a busca por um lugar em que se sentisse em casa. E foi na música que ele encontrou a força estabilizadora para as inconstâncias de sua vida. "Eu sempre tive essa sensação sobre música e poesia, como se eu tivesse, forçosamente, que fazer isso. Sem a música eu provavelmente implodiria!”

Suas canções são profundas, carregadas de lirismo e emoção. Nelas podemos sentir influências do jazz, especialmente de Miles Davis e John Coltrane. Suas letras, verdadeiras poesias, possuem traços de Leonard Cohen e Paul Simon. Ele já disse sobre suas letras que, em princípio, nada teriam a ver com ele, como se possuíssem vida própria. Ele apenas se limitaria a inserir seus sentimentos nas canções, através da melodia. De qualquer forma, o resultado é sempre maravilhoso!

Quando ele não está “na estrada”, ou compondo, geralmente está em seu jardim. Para uma vida tão cheia de movimento ele parece buscar o equilíbrio na concentração tranquila do trabalho com as plantas. Seria uma forma de criar raízes que o manteriam ligado à terra? (rs) Divagações... Outro tema constante em sua obra: o tempo. Aliás, o seu último álbum, de 2013, explora esse assunto em vários sentidos, desde os mais profundos, ligados ao futuro, até os mais simples, que ocorrem no que ele chama de “milagre mundano do dia a dia”.

Discografia
Rust Colored Stones (2003)
Songs for October (2005)
That Sea, the Gambler (2007)
This Empty Northern Hemisphere (2009)
The Weatherman (2013)


sábado, 22 de fevereiro de 2014

Voar é com os Pássaros

Esse é um vídeo que eu editei há trocentos anos (rs), quase na mesma época em que foram filmados os takes! Foi uma “ménage” que eu fiz pra Margot, que adora voar... Na verdade ele pode ser dedicado a todos os que não desistem da vida. Decidindo aqui se me incluo entre esses...


sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Frightened Rabbit



Hoje vamos de Frightened Rabbit, uma banda escocesa de indie/rock. Eles fazem um som sofisticado, melodioso, com letras densas, por vezes pesadas. Muito bom!

Discografia
Sing the Greys (2006)
The Midnight Organ Fight (2008)
The Winter of Mixed Drinks (2010)
Pedestrian Verse (2013)


terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Brevíssima Meditação Sobre o Amor


(Kandinsky – To The Unknown Voice)

Todos os sentimentos, em todos os seus matizes de manifestação, nós os possuímos. Com o amor é diferente. O amor acontece...

Os sentimentos residem em nós. Quando amamos, nós habitamos em nosso amor. Isto não é simples metáfora, mas a realidade. O amor não está ligado a nós de maneira isolada, de tal modo que pudesse ser considerado um conteúdo apenas. Ele só ganha substância quando se realiza.

A única coisa importante quando amamos, é que, para cada um dos envolvidos, o outro sempre aconteça como um outro determinado; que cada um se torne tão consciente do outro de tal forma que, precisamente por isso, assuma para com ele o compromisso de participar de um acontecimento da vida... o maior de todos.

Na relação amorosa a exclusividade absoluta e a inclusividade absoluta se identificam. Aquele que entra nessa relação não se preocupa com nada mais isolado, nem com coisas ou pessoas, nem com a terra ou com o céu, pois tudo o que importa está incluído na relação. Porém, entrar nessa relação não significa prescindir de tudo. Pelo contrário, implica sim em continuar vivendo tudo. Não é, pois, renunciar ao mundo, mas sim proporcionar-lhe uma nova fundamentação.

Tal é, como sinto, a relação amorosa. Presente sempre no aqui e agora. Não conheço nenhuma outra relação semelhante a esta. E não acredito em outra coisa que melhor possa defini-la, seja palavra, ou conceito que não esse: quando amo, eu sou presente como aquele que sou presente. Nada mais.



É da idade?



Age é o último álbum (lançado agora em fevereiro) da banda canadense The Hidden Cameras. Eles fazem um som queercore/indie/pop (rsrsrs) até bacaninha. Liderada pelo vocalista e escritor Joel Gibb, a banda pertence a uma variedade musical que Gibb certa vez já descreveu como “música de igreja gay/folk”. Suas performances ao vivo são bem elaboradas, contando inclusive com a participação de dançarinos go-go, e por vezes de um coral estilo gospel. Dá pra imaginar?

Não gostei muito desse álbum. Só postei como curiosidade, mesmo porque ninguém por aqui é gay, né!


segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Pequena Meditação Noturna


Como entendo pouco, ou quase nada, de Wilde... "A vida imita a arte muito mais do que a arte imita a vida.” Ou, como num jogo de gato e rato, não seria a arte a principal imitadora da vida? Não sei... talvez nada seja tão simples, ou linear assim. Tento muitas vezes transgredir e não consigo. Sou um transgressor de nada, afora mim mesmo, que me dissolvo e reconstruo toda noite ao fechar os olhos.
Ao invés de Wilde, quem sabe, Ricoeur:
“Sob a história, a memória e o esquecimento.
Sob a memória e o esquecimento, a vida.
Mas escrever a vida é outra história.
Inacabamento.”

Faz mais sentido. É isso.



domingo, 16 de fevereiro de 2014

David Berkeley



Revisando hoje algumas bandas/cantores, que não ouço há algum tempo, me deparei com esse, que considero ter uma das vozes mais lindas que já conheci: David Berkeley (22/09/76), cantor e compositor indie/folk de New Jersey.

Quase sempre suas músicas são acústicas, violão e outros instrumentos de apoio, letras simples, inspiradas em lugares, pessoas, acontecimentos da sua vida. Interessante é o fato que Berkeley tem servido de inspiração (pra mim, totalmente inusitada!) para vários artistas de música “trance” (rs), que se utilizam de suas músicas, transformando-as, através de “remixes” (a maior parte, pavorosos, rs), em infindáveis sequências monocórdias de música eletrônica. Vai entender...

Discografia
The Confluence (2002)
After the Wrecking Ships (2004)
Live from Fez (2005)
Strange Light (2009)
Some Kind of Cure (2011)
The Fire in My Head (2013)

David Berkeley diz se inspirar em Paul Simon (Simon & Garfunkel) por suas letras e em Nick Drake, Neil Young e Elliott Smith, por suas melodias. Concordo plenamente! Aliás, boas inspirações, né! (rs)


sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Uma Música... Ao Cair da Tarde

Na dúvida aqui: quando se fala em “cair de boca”, seria levando uma voadora com os dois pés e, catapimba, de boca no chão?! Se for (como eu penso que seja), já tenho trilha sonora...


Buber e Eu (Post Revisado)



(Republicando uma postagem antiga – porque deu vontade - que ninguém leu/entendeu... acho que continuará com o mesmo status! rs Inspirado em Martin Buber)

Parece evidente (a não ser que estejamos totalmente loucos) que NÃO existe o EU isolado, mas somente o EU de uma relação. Qualquer situação cotidiana nada mais é do que a relação que vincula o homem ao mundo e a um OUTRO que não ele mesmo. No evento da relação, de um lado está o EU em sua abertura essencial/fundamental/vital... e do outro lado?

O homem pode relacionar-se de duas formas com os outros seres/coisas/fatos: tomando-os por objetos ou colocando-se na PRESENÇA deles. Essas duas atitudes são expressas por aquilo que podemos denominar como palavras-princípios: “EU – ISSO” e “EU – VOCÊ”. Como parece por demais óbvio que as duas palavras-princípios podem ser denominadas por NÓS, me abstenho de discorrer acerca desse conceito.

Apenas como reforço: não há EU em si, mas apenas o EU da palavra-princípio EU - VOCÊ e o EU da palavra-princípio EU - ISSO. Quando o homem diz EU, ele se refere a um dos dois princípios. Lembrando que o segundo membro da palavra-princípio pode ser: outro homem, um bicho de estimação, uma árvore, uma casa, uma pintura, Deus, etc.

EU - ISSO
O ser humano percebe, experimenta, representa, quer, sente ou pensa alguma coisa, mas tudo isso que se refere como atividades do âmbito dos verbos transitivos, são da esfera do ISSO. Entretanto, o EU da palavra-princípio EU - ISSO, o EU com o qual nenhum VOCÊ está face-a-face, presente em pessoa, mas que é cercado por uma multiplicidade de “conteúdos” tem só passado, e de forma alguma presente.

Em outras palavras, na medida em que o homem se satisfaz com as coisas que experiencia e utiliza, ele vive no passado e seu instante é privado de presença. Ele só tem diante de si objetos, e estes são sempre fatos do passado. O presente flui na experiência e só é captado no passado.

Objeto sempre se contrapõe a presença. Objeto é estagnação, parada, interrupção, ausência de presença. Porém é o objeto do conhecimento, que pode ser experimentado, descrito, lembrado, representado, reproduzido, nomeado, classificado, isolado, analisado, decomposto; em outras palavras, utilizado de acordo com a necessidade de um EU.

EU – VOCÊ
O mundo do VOCÊ tem um fundamento diferente. Quem diz VOCÊ não tem um objeto diante de si... não POSSUI nada, EMBORA permaneça em relação. Entre EU e VOCÊ não há fim algum, nenhuma avidez ou antecipação; e a própria aspiração se transforma, no momento em que passa do pensamento à realidade.

Todo meio é obstáculo. Somente na medida em que todos os meios são abolidos, acontece esse encontro.

A relação EU - VOCÊ acontece na PRESENÇA (no verdadeiro tempo presente!)... quando um VOCÊ se apresenta ao EU. É somente quando esta presença acaba que posso, então, descrever, situar, conceber, representar... CONHECER! Porém, quando isso acontece já não se trata mais de um VOCÊ!

A palavra-princípio EU - VOCÊ é originária... isso quer dizer, é anterior à relação EU - ISSO. Somente depois da atualidade da relação com o VOCÊ, é que posso referir-me, no passado, a essa relação. O EU - ISSO se dá no tempo passado. O tempo e o espaço fazem parte do mundo do ISSO, enquanto não fazem sentido algum para o mundo do VOCÊ.

Essa passagem do VOCÊ ao ISSO é INEVITÁVEL. Uma vez deixando de atuar, por mais exclusiva e intensa que a presença tenha sido na relação imediata, interpõem-se meios e o VOCÊ transforma-se em um objeto entre objetos.

Essa é a grande melancolia de nosso destino. Atualidade e latência alternam-se. Porem se o VOCÊ deve retornar à condição de coisa, da mesma forma os objetos podem novamente apresentar-se como um VOCÊ, saindo do reino do ISSO.

Eis uma verdade fundamental do mundo humano: somente o ISSO pode ser ordenado... somente o ISSO pode ser FALADO! As coisas não são classificáveis senão na medida em que, deixando de ser nosso VOCÊ se transformam em nosso ISSO.

Ao mesmo tempo, porém, cada ISSO pode tornar-se um VOCÊ, se entrar novamente no evento da relação. E essa é a esperança no mundo!

CONCLUSÃO
A partir da palavra-princípio EU - ISSO o homem é capaz de produzir conhecimento. O mundo do ISSO é seguro e inspira confiança: o homem domina seu objeto. Vários sujeitos poderiam referir-se a um mesmo ISSO, mesmo que para cada EU o ISSO representasse uma coisa diferente. Tal fato demonstra a absoluta necessidade desse tipo de relação.

Pode-se, portanto, considerar o mundo do ISSO como o mundo no qual se deve e se pode viver. Um mundo que oferece toda espécie de atrações e estímulos de atividades e conhecimentos. O homem não pode viver sem o ISSO, mas aquele que vive SOMENTE com o ISSO não é homem!

Portanto, o homem precisa do ISSO, mas só se REALIZA na relação com um VOCÊ. Somente pronunciando VOCÊ o EU se abre para o SER na sua totalidade. É se relacionando reciprocamente com um VOCÊ que nos tornamos EU plenamente!




quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Walt Whitman



Poeta norte-americano (31/5/1819 - 26/3/1892), um dos maiores revolucionários, tanto na forma e na temática da poesia, como na vida. Defensor da abolição da escravatura, dos direitos das mulheres e do amor livre... tudo isso em meados do século XIX.

Criança solitária, neto de camponeses e filho de um carpinteiro, passou a infância no Brooklyn, então uma simples aldeia dos arredores de New York. Educado em rígidos padrões (sua mãe pertenceu a uma comunidade Quaker), estudou sempre em escolas públicas. Exerceu várias profissões: tipógrafo, professor, jornalista, operário agrícola, enfermeiro, empregado de escritório.

Após a Guerra Civil, conseguiu um cargo no Ministério do Interior, mas foi demitido pouco depois porque o titular da pasta se indignou com “Leaves of Grass”, livro de poemas publicado pela primeira vez em 1855 e reeditado com revisões e ampliações durante anos. Essa obra, repudiada pelos críticos de então, introduz o verso livre e dá tratamento poético a coisas e fatos do cotidiano, como, por exemplo, o progresso técnico e o sexo. Em 1873 uma doença vascular o deixa parcialmente paralítico. Passa então a morar em Camden, New Jersey. Em fins de 1891 publica a última edição de “Leaves of Grass” e morre poucos meses depois.

Em seus poemas, Whitman elevou a condição do homem moderno, celebrando a natureza humana e a vida em sua essencialidade, exprimindo em poemas visionários certo panteísmo e um ideal de unidade cósmica. Profundamente identificado com os ideais democráticos da nação americana, Whitman não deixou de celebrar o seu futuro. Ficou mais conhecido no exterior a partir das citações inseridas no enredo do filme Sociedade dos Poetas Mortos (1989).

Embora no cotidiano ele ocultasse aspectos da sua sexualidade, exprimiu em muitos de seus poemas a história de paixão e amor que viveu ao lado de Peter Doyle, ex-soldado da Guerra Civil. Foi uma relação intensa, apesar das crises, traições, idas e vindas. Doyle amparou o poeta na doença e na velhice, estando sempre a seu lado até o fim.


 (John Carroll – The Kiss)


QUANDO OUVI AO FINAL DO DIA

Quando ouvi ao final do dia que meu nome fora recebido com aplausos no capitólio, mesmo assim não foi uma noite feliz a que se seguiu;
e, antes, quando eu farreava, ou quando meus planos se realizavam, ainda assim eu não me alegrava,
mas no dia em que, me levantei da cama ao amanhecer, em perfeita saúde, refeito, cantando, respirando o hálito maduro do outono,
quando vi a lua cheia empalidecer no oeste e desaparecer na luz da manhã,
quando andei sozinho pela praia e, despido, me banhei, rindo com as águas geladas, e vi o sol nascer,
e quando pensei que meu querido amigo, meu amante, já estava a caminho, aí sim eu era feliz,
aí sim o respirar me pareceu mais doce, e durante todo o dia o alimento me nutriu melhor, e o lindo dia transcorreu perfeito,
e veio o seguinte com igual alegria, e no terceiro, ao anoitecer, chegou meu amigo,
e naquela noite, quando tudo estava quieto, ouvi as águas fluindo lenta e continuamente ao longo da costa;
ouvi o murmúrio suave do líquido e das areias, como se se dirigissem a mim num sussurro, a me felicitar,
pois quem eu mais amava dormia ao meu lado sob o mesmo teto na noite fria,
na quietude do luar de outono sua face se inclinava para mim,
e o braço descansava suavemente sobre meu peito – e naquela noite eu estava feliz.




quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Biffy Clyro



Hoje vamos sair da vibe suavezinho, meiguinho, lindinho e outros inhos! (rs) Biffy Clyro é uma banda escocesa de rock/post-hardcore, com uma sonoridade um pouco difícil de se definir, passeando livremente entre o rock setentista e o pós-grunge. Fortemente influenciados por Nirvana, Weezer e Guns and Roses, suas letras são quase sempre angustiantes, marcadas pela voz cortante de Simon Neil.

Discografia
Blackened Sky (2002)
The Vertigo of Bliss (2003)
Infinity Land (2004)
Puzzle (2007)
Only Revolutions (2009)
Opposites (2013)


terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Casamento

Nem preciso dizer que eu adoro um casamento. (rs) Gosto muito de toda a simbologia envolvida. E esses  vídeos bacanas que rolam atualmente na net... fico vendo e morro de vontade. Porém, como só de vontade não se faz muita coisa, tenho que me contentar apenas em apreciar. Oh, dó!

Não sei se já se pode comentar, mas, parece que brevemente teremos um “enlace” entre amigos nossos! (rs) Pelo jeito será com tudo o que tem direito: cerimônia, alianças, lua de mel... já me ofereço pra filmar. Eu editei esse vídeo e coloquei o fundo musical. Pra deixar como exemplo... quem sabe eles não se animam e marcam logo a data! (rs)


Aquele amor que não deu certo. Ou porque era cedo demais, ou porque não era amor



Quem nunca? Em geral, ocorre na adolescência. A menos quando o adolescente tem mais de 30 anos... acontece, às vezes. (rs) Em geral, não “consumados”. Platônicos? Acho que não, posto que (quase sempre) é possível. Talvez aristotélicos... (rs)

Eu tive um desses. Último ano do ginásio (sou dessa época), 13 anos. O nome dele: Luiz Carlos (também com “z”). Acontece nas melhores famílias! Mais baixo do que eu, mais magro, mais frágil (parecia). Padrões existem desde sempre, né! Coisas da genética. (rs) Ah, e era inteligente! Coisas da antroponímia.

Lembro exatamente o que ocorreu. Éramos de turmas diferentes. Último semestre, a nossa professora de português saiu de licença por gravidez. E fomos “juntados”, duas turmas numa única classe, para as aulas subsequentes, até o final do ano. A professora substituta, na primeira aula, passou uma redação para ser feita em classe. Ela queria testar o nosso nível de conhecimento. Não sei por que (ou sei?) ela foi uma das professoras mais odiadas do colégio. Era franca, direta e costumava comentar os erros e acertos de todos, abertamente. Falta de pedagogia? Pode ser, mas com ela eu realmente aprendi análise sintática!

Aula seguinte, e lá veio ela com as redações corrigidas. Antes de “nominar”, uma a uma, as falhas de cada aluno, ela começou a elogiar uma das redações. Raciocínio bem desenvolvido, sem erros gramaticais, de concordância, etc. A “turminha” dele (ele era desses, que andava com turminha), em uníssono: “ah, só pode ser o Luiz Carlos!” E ela: “é mesmo... como vocês sabem?” Ele, todo cheio de si (rs), levantando da cadeira, para buscar a redação corrigida, como quem recebe um Oscar... pega a folha nas mãos... “professora, essa não é a minha!” Adivinhem! (rsrsrs) Coisas da antroponímia! Vermelho feito um pimentão, fui lá receber o Oscar, que era meu. E, foi assim o nosso primeiro contato.

Interessante que, por essa época, eu já era bem “saidinho” (dá pra entender? rs), mas, com ele, não sei o que acontecia. A partir desse dia, passávamos os recreios juntos, falando, falando, falando. Tomávamos o mesmo ônibus (ele morava dois pontos à frente do que eu descia) e íamos juntos pra casa. Eu descia no ponto dele, só pra ter mais tempo pra conversar. Depois, como sói acontecer (rs), começamos a fazer as lições, ora na casa dele, ora na minha. E encosta aqui, se achega ali, confidências. Era uma coisa! Nunca passamos disso. Mas, a ligação ficava cada vez mais forte. E nos víamos todos os dias... era uma necessidade.

Muitos sábados, ficávamos horas conversando, na garagem da minha casa, ou no jardim da casa dele. Próximos, muito próximos, corpos colados. Eu me sentia no céu e, tenho certeza, ele também. O que acontecia? Depois... no final do ano, a mãe dele morreu. Dois meses, e eles (o pai e os outros 3 irmãos) se mudaram. Nunca mais o vi.

Lembrei-me disso ontem, bem tarde, enquanto “revisava” as minhas músicas do Ivri, o rei dos amores que foram, sem ter sido. (rs)


domingo, 9 de fevereiro de 2014

Mister And Mississippi



Minha mais recente descoberta: Mister And Mississippi, uma banda holandesa indie/folk com toques experimentais (rs). Seu disco de estreia (e o único até o momento), que leva o mesmo nome da banda, foi lançado em janeiro de 2013 e só agora chegou aos meus ouvidos.

Influenciados por Patrick Watson, Bon Iver e Sigur Rós, Mister and Mississippi possui arranjos orquestrais maravilhosos, um som levemente calmo... um “folk sonhador”, mas bastante dinâmico. Amei de paixão, logo à “primeira ouvida”!


sábado, 8 de fevereiro de 2014

Death Vessel



Death Vessel é uma banda de indie/folk, liderada por Joel Thibodeau. Nascido em Berlim, adolescente mudou-se para Boston (Massachusetts) e depois para Providence (Rhode Island), onde iniciou sua carreira musical. A banda (na verdade um projeto musical) já teve em sua formação vários músicos. A cada novo álbum lançado, dependendo da temática, Thibodeau renova os seus componentes.

Seu estilo musical é muito suave, tímido, e sua voz (um timbre que lembra demais o de Jónsi, do Sigur Rós), que mais parece a de um adolescente, tem um poder hipnótico que acho sensacional! Aliás, em seu último álbum, a ser lançado no final de fevereiro (e que, aos costumes, já ouvi... está maravilhoso!) Jónsi faz uma participação especial.

Discografia
Stay Close (2005)
Nothing Is Precious Enough For Us (2008)
Island Intervals (2014)

Esse dueto com o Jónsi ficou lindo!


sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Arrogância



Outro dia garrei um papo com ermão sobre o que seria, se boa coisa, se má, essa tal arrogância. Não vou reproduzir aqui. Na verdade quero falar um pouco sobre o seu “pretenso” contrário: a humildade. Uma consultinha ao Houaiss, pra começar a conversa:

. Virtude caracterizada pela consciência das próprias limitações; modéstia, simplicidade.
. Reverência ou respeito para com superiores; acatamento, deferência, submissão.
. Sentimento de fraqueza, de inferioridade com relação a alguém ou algo.

Existem outras definições, mas, fiquemos por enquanto com essas. Notaram alguma coisa estranha? Em geral as pessoas acreditam que ser humilde é algo bom. Inclusive se costuma classificar essa “postura” como uma virtude. Vide a base dos textos cristãos, né! O que me intriga (e isso é claro até numa definição despretensiosa, como a do dicionário acima citado) é que essa “virtude” é também comumente associada a “fraqueza”, ou “sentimento de inferioridade”. Certo?

Nietzsche diria que a humildade é a tentativa do fraco de ser virtuoso. Aliás, ele sempre acreditou que a moral cristã era uma moral pervertida, que foi “inventada” pra tornar os realmente fortes senhores dos fracos, tornados “virtuosos” pela esperança de uma vida além dessa! Mas, voltemos ao Houaiss... algumas questões: obedecer é virtuoso? Ser pobre é virtuoso? Aceitar a submissão é virtuoso? Ou será que, justamente para que o submisso mantenha-se submisso, criou-se um “mito” de que isso é virtude?

Vamos agora abordar por outro ângulo, pela “essência” do conceito. Poderíamos dizer que humilde é o sujeito que não se vangloria por ser melhor que os outros. Mas há uma premissa explícita nessa definição: o sujeito precisa ser melhor que os outros. Ser melhor que quem? Vamos “quebrar” o significado que está por trás desse enfoque? Teríamos algo assim... pra ser humilde:

. Você tem que ser melhor que sua base de comparação.
. Você tem que deixar todos ao redor (que são os que vão dizer quem é virtuoso) saberem que você é melhor que sua base de comparação.
. Você tem que deixar que a base de comparação pense que é melhor que você.

Dá pra notar que ser humilde é, na verdade, enganar a sua base de comparação, fazendo com que eles achem que são melhores que você e, além disso, que todos “ao redor” (os que vão dizer quem é virtuoso) tenham dó dos “da base” por se acharem melhores? Entenderam? (rs) Assim, você será aplaudido por não acabar com a alegria de ninguém da base por ser melhor que eles! Isso também é uma virtude?

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Até Tu?



“Meu caro leitor!
Se não tens tempo nem oportunidade para consagrar uma dezena de anos da tua vida a uma viagem em volta do mundo para observar tudo o que um circunavegador pode aprender; se te falta, por não teres estudado por muito tempo as línguas estrangeiras, os dons e os meios de te iniciar nas mentalidades diversas dos povos que se revelam aos cientistas; se não pensas em descobrir um novo sistema astronômico que suprima o de Copérnico, bem como o de Ptolomeu - então, casa-te; e mesmo que tenhas tempo para viajar, dons para os estudos e a esperança de fazer descobertas, casa-te do mesmo modo. Tu não te arrependerás, ainda que isso te impeça de conheceres todo o Globo terrestre, de te exprimires em muitas línguas e de compreenderes o espaço celeste; pois o casamento é e continuará a ser a viagem da descoberta mais importante que o homem pode empreender; qualquer outro conhecimento da vida, comparado ao de um homem casado, é superficial, pois ele e só ele penetrou verdadeiramente na existência.”

(Emmanuel Kant)

Uia! Passado aqui com meu “filósofo predileto”! (rs) O legal foi perceber que até nisso pensamos da mesma forma... almas gêmeas, reencarnação, consciência ampliada? Um ponto a se investigar hoje... (rs)

Ecce Homo



Nada me prende a nada.
Quero cinquenta coisas ao mesmo tempo.
Anseio com uma angústia de fome de carne
O que não sei que seja,
Definidamente pelo indefinido...
Durmo irrequieto, e vivo num sonhar irrequieto
De quem dorme irrequieto, metade a sonhar.
Fecharam-me todas as portas abstratas e necessárias.
Correram cortinas de todas as hipóteses que eu poderia ver da rua.
Não há na travessa achada o número da porta que me deram.
Acordei para a mesma vida para que tinha adormecido.
Até os meus exércitos sonhados sofreram derrota.
Até os meus sonhos se sentiram falsos ao serem sonhados.
Até a vida só desejada me farta - até essa vida...
Compreendo a intervalos desconexos;
Escrevo por lapsos de cansaço;
E um tédio que é até do tédio arroja-me à praia.
Não sei que destino ou futuro compete à minha angústia sem leme;
Não sei que ilhas do sul impossível aguardam-me naufrago;
Ou que palmares de literatura me darão ao menos um verso.
Não, não sei isto, nem outra coisa, nem coisa nenhuma...
E, no fundo do meu espírito, onde sonho o que sonhei,
Nos campos últimos da alma, onde memoro sem causa
(E o passado é uma névoa natural de lágrimas falsas),
Nas estradas e atalhos das florestas longínquas
Onde supus o meu ser,
Fogem desmantelados, últimos restos
Da ilusão final,
Os meus exércitos sonhados, derrotados sem ter sido,
As minhas cortes por existir, esfaceladas em Deus.

(Álvaro de Campos – Lisboa Revisitada)

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

O Corvo Que Virou Rouxinol



William Fitzsimmons (1978) é um cantor, compositor e multi-instrumentalista de Pittsburgh, Pensilvânia (USA). Filho mais novo de pais cegos (ambos músicos profissionais!) foi criado num ambiente muito mais sonoro do que visual. Sua música é um “folk” suave, melancólico e predominantemente acústico. Segundo ele, as principais influências em sua carreira são: Iron & Wine, Sufjan Stevens e Elliott Smith. Foi o que pensei, desde que o conheci. (rs)

Além do domínio de vários instrumentos musicais, Fitzsimmons foi engenheiro e produtor de seus dois primeiros álbuns. E tem mais (rs)... ele iniciou sua carreira musical após se graduar em Aconselhamento em Saúde Mental, tendo trabalhado por vários anos como terapeuta de pacientes com esse tipo de problema.

Discografia
Until When We Are Ghosts (2005)            
Goodnight (2006)            
The Sparrow and the Crow (2008)            
Derivatives (2010)           
Gold in the Shadow (2011)
Lions (2014)… ainda não foi lançado… quer dizer, pro público em geral, né! (rs)

Em uma entrevista quando do lançamento de The Sparrow and the Crow (seu primeiro álbum por uma gravadora oficial) ele contou sobre um sonho recorrente em sua infância, em que ele procurava brincar com pardais, tentando imitá-los, querendo fazer parte das suas vidas e, como sempre, todos fugiam... ele então se sentia como um corvo ameaçador.

Eu não saberia explicar o significado desses sonhos (se é que tem algum, ou mesmo se seria relevante). Hoje, se existe algum pássaro que o possa definir, com certeza não é um corvo...


terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

O Eu Empírico



O conhecimento humano, grosso modo, é sustentado por duas categorias: as "impressões" (que são os dados fornecidos pelos sentidos e que podem ser tanto internos, como, por exemplo, a percepção de um estado de tristeza, quanto externos, como a visão de uma paisagem) e as "ideias" (que são as representações da memória das impressões).

O que temos de mais vívido em nossas mentes são as impressões dos sentidos no momento em que ocorrem, isto é, aquilo que vemos, aquilo que ouvimos, e tudo aquilo que os sentidos produzem em nós. São os prazeres e as dores. As ideias são reproduções, são cópias das impressões. Se eu penso no sabor da maçã, essa ideia não é tão forte quanto saborear a maçã e ter a "impressão" viva do seu sabor.

Não existem impressões complexas... quanto às ideias, existem as simples e as complexas. Nossa ideia de uma maçã é uma ideia complexa, cujas ideias simples são o vermelho, a textura, o sabor doce, etc. A ideia do triângulo plano, por exemplo, inclui a igualdade dos seus ângulos internos a dois ângulos retos, e a ideia de movimento contem as ideias de espaço e tempo, não importando se realmente existem tais coisas como triângulos e movimentos. Pelas pesquisas médicas mais recentes, ao que tudo indica, cegos e surdos de nascença não possuiriam esses caracteres, ou seja, não teriam ideias correspondentes às cores ou aos sons.

De onde se pode concluir que as coisas não seriam, pois, possuidoras de uma essência, mas cada coisa é composta de outras coisas. Quando examinamos nossa ideia de uma coisa individual, tudo que encontramos são as ideias simples que se juntam para formar uma ideia complexa. Tomando, por exemplo, duas maçãs, uma é mais vermelha que a outra, uma está mais próxima de mim... provando as duas uma é doce, a outra menos, maior e menor, etc. Isto equivaleria a dizer que o homem não cria qualquer ideia. Se uma ideia, ou sua “representação” (a palavra) não corresponder diretamente a uma impressão ela só terá significado se trouxer à mente um objeto que pode ser apreendido de uma impressão por um processo mental associativo.

As matérias “de fato”, as impressões, vêm ante nós meramente como elas são, não revelando nenhuma relação lógica... suas propriedades e conexões tem que ser aceitas como elas são dadas. As impressões correspondentes aos fatos concretos não tem relações lógicas, portanto. Poderiam ser diferentes do que são sem que houvesse contradição. As ideias, no entanto, podem ser retidas perante a mente simplesmente como significados, e suas relações lógicas, uma com a outra, podem então ser detectadas por inspeção racional.

A mais importante relação entre as ideias é a de causa e efeito. Esta categoria de relação nos leva para além de nossos sentidos, e nos informa das existências e de objetos os quais não vemos nem sentimos. Por exemplo, a previsão do resultado da colheita neste verão está além da nossa experiência presente e, no entanto, raciocinando na relação de causa e efeito, podemos dizer que o sol fará a plantação crescer e produzir. O sol é a causa (tudo o mais permanecendo favorável) e a boa safra o efeito.

Efetivamente, se uma coisa ocorre, outra coisa que esteja necessariamente ligada a ela como um efeito deverá ocorrer também. Porém, nada existe que garanta uma ligação necessária e não podemos estabelecer conexão necessária entre o que existe e o que não existe, pois, no caso, a boa safra ainda não existe. Portanto, causa e efeito apenas correspondem ao que é anterior e o que é posterior em uma sucessão temporal, transformados erroneamente em elos de uma “vinculação necessária”. A conclusão é que, não importando quanto constantemente os dois fatos aconteçam sequencialmente, podemos sempre conceber a possibilidade de que o primeiro ocorra sem o segundo, a causa se apresente, mas o efeito, não.

A ideia de causa, em nosso exemplo, vem do fato de que as plantas nunca deixaram de produzir quando expostas ao sol, desde que os nutrientes, temperatura, etc., continuem adequados. Consequentemente, relações de causalidade ou associação lógica que são possíveis entre as ideias, não podem ser tomadas como associações necessárias entre as impressões. Outro exemplo: a ideia de movimento conduz à ideia de espaço e tempo por associação lógica, não importando saber se existem ou não as realidades concretas correspondentes (espaço e tempo verdadeiros). E é apenas nesse puro nível de significados, sem relação com a experiência sensível, que é possível o conhecimento demonstrativo,  isto é, o domínio da dedução lógica.

A lógica é apenas a demonstração dos domínios da matemática, cujas verdades são evidentes por si mesmas, valendo como necessárias. É neste domínio que estão as ideias de quantidade (por exemplo: cálculos de tempo e espaço que não existem como coisas concretas). Quando vemos um copo cair, não somente pensamos na sua quebra, mas “esperamos e acreditamos” nela. Ou ainda, quando vemos o chão molhado, além de pensar em chuva,  acreditamos que tenha chovido. Esta vinculação tida como lógica e necessária decorre, de um “sentimento de crença”, e não pode ser tomado como inferência lógica válida.

Podemos perceber a crença como um tipo de vivacidade ou clareza possuída por algum dos objetos imediatos da consciência, originalmente por impressões e as simples imagens de memória delas. Como acontece de a nossa noção de causa pertencer a certas ideias? Por associação! Esta é a essência da inferência causal: o observador passa de uma impressão para a ideia regularmente associada com ela. Nesse processo o aspecto de clareza e vivacidade próprio da impressão “infecta” a ideia!

As crenças naturais são propensões da natureza do homem... elas não são possíveis de se obter, e não podem ser iluminadas, nem pela observação empírica nem pela razão. Não existe evidência para elas e isso nos mostra também que estamos inclinados a acreditar nelas e que é de bom senso e sanidade, fazer assim. Entretanto, não podemos inferir a negação da crença, mas sim da sua “evidência”.

Explicar psicologicamente a crença no princípio de causalidade é recusar todo valor a esse princípio. De fato, não existe, na ideia de causalidade, senão o peso do meu hábito e da minha expectativa. Espero calmamente a ebulição da água que coloquei no fogo. Mas essa expectativa não tem fundamento lógico-racional. Para onde tudo isso nos conduz? A que em todos os princípios do conhecimento descobrimos as ilusões da imaginação e do hábito. Até a unidade do eu - que se nos apresenta ingenuamente como uma evidência - é ilusória. É também a imaginação que identifica o eu com o que ele possui ou, como dizemos, “o ser e o ter”.

Em resumo, nós temos lembranças, ideias e sonhos do mesmo modo que tenho esta roupa ou esta casa. É simplesmente a imaginação, hábil em mascarar a descontinuidade de todas as coisas, que facilmente desliza de um estado psíquico a outro e constrói o mito da personalidade. Pois, ou eu sou meus "estados" e minhas "qualidades" e não sou eu mesmo, ou então sou eu mesmo e nada mais além de um vazio formal...

(Edited)

Aceitando a boa ilustração proposta pelo ermão! (rs)


domingo, 2 de fevereiro de 2014

Morte em Veneza



1. O livro de Thomas Mann (06/06/1875 – 12/08/1955)

“Ele era mais bonito do que as palavras podiam exprimir, e Aschenbach sentiu dolorosamente, como tantas vezes antes, que a linguagem pode apenas louvar, mas não reproduzir, a beleza que toca os sentidos. (...) Tadzio sorriu... E recostando-se, com os braços caídos, transbordando de emoção, tremendo repetidamente, segredou a formulação tradicional do desejo - impossível, absurda, abjeta, idiota, mas sagrada, e mesmo neste caso honrada: ‘Amo-te!’”

São os primeiros anos do século 20... o escritor alemão Gustav Aschenbach, em uma grave crise de depressão após a morte da filha ainda criança, do esfriamento se sua relação com a esposa, além de se encontrar em uma crise de criação artística, decide tirar férias e parte para Veneza. Considerado um dos mais importantes escritores de seu país, inclusive laureado com título de nobreza, Aschenbach representa (e se considera) o modelo do artista rigoroso, racional, ascético, obcecado com a perfeição da forma e a beleza ideal. Ele acredita que em Veneza reencontrará seu caminho, tanto no aspecto artístico, quanto no pessoal.

Ao chegar à cidade italiana (a materialização do ideal de beleza, segundo Aschenbach) hospeda-se em um luxuoso hotel à beira-mar. Entre os hóspedes encontra o adolescente Tadzio, cuja beleza física irá superar, aos poucos, o ideal da arte de Aschenbach. Fascinado pela perfeição do jovem, o escritor irá sucumbir a uma paixão platônica que o levará, pouco a pouco, à ruína.

Combinando reminiscências da cultura greco-romana com a ideia de decadência que dominava a Europa às vésperas da Primeira Guerra, Thomas Mann condensa em Morte em Veneza algumas questões fundamentais: a tensão entre o ideal artístico e o mundo natural e real, a luta obcecada contra a passagem do tempo, a decadência do corpo e a doença como metáfora de um mundo em agonia.



2. O Filme de Luchino Visconti (02/11/1906 – 17/03/1976)

Na adaptação do romance para o cinema, Visconti faz o que eu considero a “sacada de gênio” (rs): Aschenbach, ao invés de escritor, é um músico e compositor erudito. Toda a trilha sonora é baseada na obra do grande (e põe grande nisso! rs) Gustav Mahler, o que, aliado à estética inconfundível de Visconti, tornará seu filme a grande obra de arte que é! E, pra não deixar por menos, o papel do protagonista é entregue simplesmente a Dirk Bogarde.

Muito se criticou o filme por uma certa “morosidade” na sequencia da trama, das imagens. Queriam o que? Tudo se desenrola a partir do ponto de vista de Aschenbach, um homem solitário, angustiado, em crise, sentindo em seu próprio corpo, tanto a decadência moral, quanto a física! Fora a grande metáfora que ronda tudo como um espectro: a Europa, à beira da Primeira Guerra, num processo de deterioração, simbolizado pela epidemia de cólera que começa a impregnar Veneza. Declinar, decair, apodrecer... a cidade e o compositor se esvaem! Tudo ao som maravilhoso e inconfundível de Mahler.

E tem a “cereja do bolo”: penso que a realização desse filme foi a maior concentração de homossexuais por m2 da história da arte! Tudo bem que, de todos (Visconti, Mann, Mahler, Bogarde), o único assumido era o próprio Visconti. Entretanto, “nunca na história desse...” (rsrsrs) houve um “casamento” nessas proporções.



3. A Música de Gustav Mahler (07/07/1860 – 18/05/1911)

Acredito que pra falar de Mahler será necessário um post à parte (rs). Apenas gostaria de comentar que, a partir do filme de Visconti, sua música começou a ser “popularizada” pela primeira vez. A tal ponto que muita gente chega a confundir a história de Aschenbach (um personagem de ficção) com a do próprio Mahler (os dois eram Gustav, né! rs). O que não deixa de ser totalmente inverdade, pois Mahler, em uma época da vida, sofreu as mesmas angustias e crises por que passou o personagem do filme/livro.


sábado, 1 de fevereiro de 2014

Sábado à Noite

Eu havia jurado (de pés juntos, sem fazer figa, com a mão sobre a bíblia, rs) pra mim mesmo que não usaria esse blog em algum arroubo terapêutico. Então, chega o sábado, esse dia fatídico! Você vê as pessoas felizes (como dói a felicidade alheia! não por inveja, mas porque dói mesmo...), principalmente aquelas que têm a felicidade de amar... e, o que resta a você, que vive mergulhado no vazio absoluto do nada? Nada, né!

Sabe o que existe de pior na solidão? Pelo menos no meu caso, é como se eu carregasse uma multidão dentro de mim! Multidão que de nada vale, pois que nela não encontro o amor. Às vezes eu procuro, eu tento, encontrar no meio dessa multidão, alguém, algum corpo que eu pudesse tocar, sentindo que sou tocado. Obviamente apenas encontro a inexorabilidade do nada. Foda isso!

Sem vontade de ler, assistir a um filme (ver TV, nem pensar!), resolvo traduzir alguma música judaica (isso é coisa pra se fazer num sábado? sem comentários! rs) e como tem muitas na “fila”, escolho essa, aleatoriamente. Como não poderia deixar de ser, fodeu geral! Será que vendem cicuta no supermercado?

PS: Aviv Geffen... é, meu caro, entendi tudinho o que você tá dizendo!