quarta-feira, 30 de abril de 2014

Quando o Indie é Classudo



Pra fechar o mês de abril, vamos de Tindersticks, uma banda indie/folk/soul/jazz (rs) de Nottingham, Inglaterra. Formada em 1991, sua “marca registrada” é a voz personalíssima (e anasalada, rs) de Stuart Staples, com músicas quase sempre emolduradas por uma orquestra de fundo, que tem como principal arranjador o pianista e violinista Dickon Hinchliffe. Completam a banda outros componentes responsáveis pelos vários e sofisticados instrumentos que povoam os álbuns do grupo. Coisa phyna!

Discografia
Tindersticks (1993)
Tindersticks (1995)
Curtains (1997)
Simple Pleasure (1999)
Can Our Love...  (2001)
Waiting for the Moon (2003)
The Hungry Saw (2008)
Falling Down a Mountain (2010)
The Something Rain (2012)
Across Six Leap Years (2013)


terça-feira, 29 de abril de 2014

Ti’aninha

Ela se chamava Ana e era uma tia. Tia Ana... Aninha... Ti’aninha. Na verdade, tia-avó. Solteirona. Encalhada, como ela mesma dizia. Quando eu era criança pequena lá em... (rs) ela já estava mais relax com a vida. Devia ter mais de 60 anos (era mais velha que minha avó). Entretanto, seu jeito desbocado, vendo malícia em tudo, ainda era bem vivo. Sabe aquele tipo familiar que todos diziam “não tem jeito... só morrendo...”? Qualquer frase, qualquer palavra que, porventura, abrigasse a mínima possibilidade de um duplo sentido e lá vinha ela com seus “desbocamentos”. Eu, na minha inocência pueril (kkkkk) sempre achava engraçada aquela forma despachada dela encarar a vida.

Um dia, já mais crescidinho, num dos meus costumeiros papos noturnos com minha avó, fiquei sabendo de toda a sua história. Mocinha ainda, vivendo num sítio no interior de São Paulo, família italiana, era um “pega-pra-capar” para que ela fosse uma menina comportada. E dá-lhe catecismo, conselho de padre, água benta, benzeção (rs) e nada parecia funcionar. Ela, pelo visto, queria apenas uma coisa nessa vida: dar! Não podia ver calça comprida (e, segundo a minha vó, nem curta!), que já se assanhava toda. Vivia atrás dos peões, dos roceiros, apesar da vigilância dos pais. Mas, como diz aquele velho ditado, “água morro abaixo...”, um dia foi! Inaugurada, não parou mais. Nas redondezas não houve homem, acima de 15 e abaixo de 60 que não a tenha “conhecido”.

E quando se mudaram pra São Paulo, então, aí que a coisa tomou proporções gigantescas. Como era a única da família que não trabalhava fora (acho que por motivos óbvios, rs) ela ficou encarregada dos afazeres domésticos. Segundo consta,  de pedreiros, marceneiros, tintureiros, verdureiros... de motorneiros de bonde, motoristas de ônibus e cobradores, vendedores domiciliares em geral, inclusive de carnê do baú, sem preconceito de cor, religião, tamanho, procedência, ela experimentou diumtudo! (rs) E, nada de dinheiro na parada. Era pelo puro prazer de desfrutar da “coisa”.

Quando ficou mais madura virou religiosa. Dizem as más línguas que continuou a sua saga, agora em novas frentes de combate. Padres, sacristãos, coroinhas, meninos do catecismo... era uma verdadeira vocação religiosa se manifestando! (rs) E, incrível, nunca engravidou! Apesar de nunca ter usado nada que impedisse uma gravidez. Dizia que filhos atrapalhariam demais sua vida, nasceu sem o instinto maternal. Já bem velhinha, só se lamentava de uma coisa: não ter estocado uma coleção de canivetes suíços! Não foi previdente...

E você? Tem, conhece, ou é um(a) Ti’aninha? (kkkkkk)


segunda-feira, 28 de abril de 2014

The Civil Wars



Pra começar a semana, hoje vamos com um duo folk de Nashville (USA): The Civil Wars. Eles fazem um som basicamente acústico, apostando tudo nos arranjos e harmonias vocais. Outra característica da dupla é reinterpretar antigos sucessos. E em muitos casos acabam produzindo algo bem melhor do que o original.

Discografia
Barton Hollow (2011)
The Civil Wars (2013)

Essa música, “Disarm”, foi um grande sucesso de 1994 da banda grunge (rs) The Smashing Pumpkins. No original a música causou alguma polêmica, por seus tons sombrios, sendo proibida a sua exibição em algumas rádios inglesas. Na interpretação do The Civil Wars são acentuados tons mais intimistas, transformando-a em um lamento, que quase beira as harmonias de um fado.


domingo, 27 de abril de 2014

“Saudade...”

“... é a nossa alma dizendo pra onde ela quer voltar.” (Rubem Alves)

E quando já não existe mais nem pra onde voltar?


sexta-feira, 25 de abril de 2014

Acaso

Piadinha que, por um triz, não contei ontem para os meus “amiguinhos”... (rs)

Alvin está trabalhando em sua loja quando escuta uma voz trovejante do alto que diz:
- Alvin, venda sua loja!
Ele ignora a mensagem. Mas a voz continua dias a fio dizendo:
- Alvin, venda sua loja por 3 milhões de dólares!
Depois de algumas semanas, ele cede e vende a loja.
A voz diz:
- Alvin, vá para Las Vegas!
Alvin pergunta por quê.
- Alvin, simplesmente pegue seus 3 milhões de dólares e vá para Las Vegas!
Alvin obedece, vai para Las Vegas e entra num cassino.
A voz diz:
- Alvin, vá até a mesa de vinte-e-um e aposte tudo em um jogo só!
Alvin hesita, mas obedece. Recebe cartas que valem 18 pontos. O crupiê está com um seis na mesa...
- Alvin, peça uma carta!
- O quê? O crupiê tem...
- Peça uma carta!
Alvim pede uma carta ao crupiê e recebe um ás. Completa 19. Respira aliviado...
- Alvin, peça outra carta.
- 0 quê?
- PEÇA MAIS UMA CARTA!
Alvin pede mais uma carta. É outro ás. Ele está com vinte!
- Alvin, peça outra carta! - a voz ordena.
- ESTOU COM VINTE! - Alvin grita.
- PEÇA OUTRA CARTA! - troveja a voz.
- Carta! - diz Alvin. Recebe mais um ás.
- VINTE E UM!
E a voz trovejante diz:
- l-NA-CRE-DI-TÁ-VEL, PORRA!

Moral da história: existe coisa mais fascinante do que um Deus capaz de se surpreender? (rs)


quinta-feira, 24 de abril de 2014

Ed Droste



Dando prosseguimento à nossa “listinha” de cantores assumidamente gays, hoje vamos com o Ed Droste (22/10/1978), compositor, vocalista e guitarrista da banda Grizzly Bear. A banda nasceu em 2004 em torno do seu projeto-solo Horn of Plenty. Aliás, o nome Grizzly Bear veio do “nick” de um namorado daquela época, que Ed conheceu pela internet (ele era desses! rs).

Suas letras quase sempre são sobre os dilemas da vida (muitos relacionados ao universo gay). Interessante, a meu ver, que sua voz, apesar de um pouco anasalada (além dele ter a língua um pouco presa), é muito expressiva. Na verdade, eu gosto muito da sua figura, um misto de garoto (apesar da idade) perdido e sonhador... e sua voz é um elemento essencial de toda essa composição. Quem me conhece, entende o que estou falando. (rs)

Ele sofreu, durante a infância/adolescência, quer pela sua aparência (convenhamos, no mínimo ele é um pouco “estranho”), quer por ser gay (nunca fez questão de esconder) e mesmo por sua voz. O bacana é que ele acabou usando essas características de sua personalidade, fazendo disso a sua “marca”, o seu diferencial na área musical.

  

Atualmente está em um relacionamento de alguns anos com o designer de interiores Chad McPhail, que o acompanha nas turnês da banda, em eventos, etc. Um casal bem feliz! E, cá entre nós, ele deu sorte no casamento, né! (rs)

Half Gate... gosto demais dessa música! Especialmente da letra...


quarta-feira, 23 de abril de 2014

Teleologia



Um estudioso ouviu dizer que o guru mais sábio de toda a Índia vivia no alto da montanha mais alta de lá. Então o estudioso atravessa mundos e fundos para chegar até a montanha. Ela é incrivelmente íngreme e mais de uma vez ele escorrega e cai. Quando chega ao alto, está todo cheio de cortes e hematomas, mas lá está o guru, sentado de pernas cruzadas diante de sua caverna.
- Oh, sábio guru - diz o estudioso - vim lhe perguntar qual é o segredo da vida.
- Ah, sim, o segredo da vida - diz o guru - O segredo da vida é uma xícara de chá.
- Uma xícara de chá? Eu vim até aqui em cima para descobrir o sentido da vida e o senhor me diz que é uma xícara de chá?!
-  Bom, então talvez não seja - diz o guru, dando de ombros...

(Do livro “Platão e um Ornitorrinco Entram num Bar...”)


terça-feira, 22 de abril de 2014

Isso é Folk?



Eles dizem que seu som é folk. Embora os instrumentos sejam típicos de uma banda de rock. Misturam, experimentam, viajam... The Dodos, banda originaria de São Francisco (USA) e na estrada desde 2004, já foram classificados (dependendo do álbum, rs) como psych-folk, pop-barroco, folk-rock, freak-folk, lo-fi... maluquice!

Discografia
Dodo Bird Meric Long (2005)
Beware of the Maniacs (2006)
Visiter (2008)
Time To Die (2009)
No Color (2011)
Carrier (2013)

Ah, os vídeos... na mesma vibe! (rs)





Lukla

Vontade de ir pra esse lugar aprazível...


segunda-feira, 21 de abril de 2014

sábado, 19 de abril de 2014

Os Apressados Comem Antes



É inacreditável como esse povo anda cada vez mais abusado! (rs) Lembra muito aqueles lançamentos de automóveis do ano seguinte na metade do ano em curso. Enfim, Familiars, o novo álbum do The Antlers (outra banda entre as minhas preferidas (rs) ainda dedicarei a ela um post exclusivo) previsto para ser lançado em 17 de junho... já sabem!
Está d-e-s-l-u-m-b-r-a-n-t-e!

The Antlers é uma banda difícil, com músicas densas, álbuns quase sempre conceituais e que exploram temas sombrios e, por vezes, pesados demais (vide Hospice, de 2009 e Burst Apart, de 2011). Familiars também é um álbum-conceito, porém, tão mais maduro! Peter Silberman, o vocalista e compositor, continua com sua voz intimista. Suas letras, contudo, estão mais suaves, abertas para o mundo. Ouvi direto hoje!

E meu periscópio está atento: zum-zum sobre Ghost Stories no mar! (rs) Oficialmente será lançado dia 19 de maio. Dadas as atuais condições climáticas, nunca se sabe, né!


sexta-feira, 18 de abril de 2014

Recordar # 2 (Amávamos)


(Rinaldo Hopf - 2002)

Amávamos. Ah, como nos amávamos! Singrando pelo espaço... qualquer espaço. E éramos uma só canção a tocar na vitrola. E éramos a refeição de todo dia. Saborosa e suculenta. Mesmo que fosse única. Mesmo que fosse pouca. E em nós jorravam os sabores da noite. Das noites. Dos dias. Das danças pelos sonhos e pelo espaço infinito.

E rodávamos e caíamos. Suavemente caíamos, até parar no fundo de um grande abismo. Enorme! E lá ficávamos. Eu. Você. E víamos o céu. Éramos o céu. Éramos as estrelas do céu. Todas as estrelas. As conhecidas e as ainda não descobertas... as que inventávamos. Metade delas com seu nome. A outra metade com o meu.

Surgíamos sempre através da folhagem cerrada dos manacás. Dos ramos floridos dos manacás. E tínhamos perfume. De jasmim? De açafrão? De bergamota? Éramos, exatamente, o perfume que doávamos um ao outro. De minhas mãos tocando o seu corpo, aromas cítricos. Da sua boca me percorrendo, essências frutais. De nossos músculos retesados, patchouli.

Em que momento, em que preciso momento o inverno chegou?


quinta-feira, 17 de abril de 2014

Reencarnação


Sério, já vi muitos cantores tentando interpretar as músicas do Nick Drake. Inclusive o Renato Russo. Mas, sei lá, parece que as músicas só se encaixam na voz, no ritmo que o Nick imprimia ao violão. E também já vi muito cover... um pior que o outro! Aí me deparei com esse menino... gente! Será que ele já voltou? Preciso consultar os meus amiguinhos da Seara! (rs)

Pra quem quiser ver as proezas do garoto (inclusive tocando músicas brasileiras!) o canal do YT tá aqui...


quarta-feira, 16 de abril de 2014

Solander



Fazia um bom tempo que não surgia, ao menos pra mim, alguma novidade musical, que me cativasse de imediato. Eu frequento alguns fóruns de música indie, onde se discute sobre bandas e artistas, os mais esquisitos possíveis. (rs) Raramente surge alguma coisa que vale a pena. Ontem me deparei com essa banda sueca: Solander. E foi só ouvir a primeira música, os primeiros acordes e... paixão! Obviamente óbvio (rs) já “pesquei” a discografia inteira!

Eles fazem um indie/folk, digamos, mais sofisticado. Como eles próprios se definem, “sua música é uma busca por terrenos mais altos, montanhas e florestas mais profundas a serem exploradas... e isso é como mergulhar nas profundezas e alturas que o nosso espírito pode alcançar.” Interessante, né!

Discografia
Since We Are Pigeons (2009)
Passing Mt. Satu (2011)
Monochromatic Memories (2014)


segunda-feira, 14 de abril de 2014

Nem Tudo é o Que Parece



Aí alguém comenta com você sobre um cantor e compositor, que faz um indie (quase blues, rs)... e o cara se chama Paolo Giovanni Nutini. Automaticamente, você já fica pensando em algumas músicas do tipo: “Strani Amore”... “Tu Nella Mia Vita”... “Champagne”... “La Solitudine”... certo? Redondamente errado! Paolo Nutini (09/01/1987) é escocês e de família escocesa há algumas gerações. Com forte influência de bandas como Pink Floyd, U2, Oasis e Beatles (naturalmente!), ele transita entre o pop e o intimismo romântico.

Ao contrário da maioria dos jovens músicos, Nutini não teve qualquer tipo de formação musical durante sua infância/adolescência. Começou estudando e trabalhando com seu pai no pequeno negócio da família, no ramo de pesca. Como não conseguiu se adaptar, foi trabalhar como “roadie” (algo como um “faz tudo” de bandas musicais, desde cuidar de todos os equipamentos, até da programação das turnês) da banda Speedway. Após 3 anos, foi trabalhar como ajudante num estúdio de Glasgow e, em 2003, apresentou algumas de suas canções num festival de Paisley, sua cidade. Em pouco tempo já estava abrindo shows de bandas famosas, inclusive para os Rolling Stones.

Discografia
These Streets (2006)
Sunny Side Up (2009)
Caustic Love (2014)

Ouvindo seu último álbum Caustic Love... muito bom!


quinta-feira, 10 de abril de 2014

Looking



Ontem eu li essa crítica sobre a 1ª temporada da série “Looking” (Um retrato dos defeitos que os gays não admitem ter). Apesar de bem construída, com muita “verdade” sendo dita, acredito que existem alguns exageros. E o primeiro deles é certa generalização conceitual a partir de uma simples e singela série de TV. E que, convenhamos, está muito longe de ser uma obra de arte, ou um tratado filosófico sobre a vida e o comportamento dos gays. Entretanto, como crítica, vale a pena se dar uma “sapeada” (rs). Em especial, gostei da análise que ele faz do Patrick, talvez o personagem principal da série.

Em uma conversa com um amigo (que, inclusive, chega a se identificar, em alguns pontos com o dito personagem, rs), o papo acabou se encaminhando para a questão dos valores que atribuímos à vida, às pessoas que nos cercam, e como isso muda à medida que envelhecemos. Sei que isso é bem chavão e, inclusive, tendendo à pieguice, mas não tenho dúvida: o nosso envelhecimento, ou acúmulo de experiência de vida, como queiram, nos faz, por um lento processo interno, rever uma série de valores que tínhamos na juventude.

Uma cena de “Looking” me tocou profundamente: quando o “namorado” do Patrick, Richie (um jovem latino, pobre, sem muita ambição na vida, mas, a meu ver, o único verdadeiro, sincero e sensível ali!), uma bela noite, como que pra “selar” um compromisso, dá a ele um escapulário. O significado daquele gesto, o sentimento envolvido, o querer o bem, a proteção oferecida pelo escapulário, me tocaram demais. De certa forma eu já ganhei, um dia lá no passado, um “escapulário”. Qual valor eu atribui a aquele gesto vivido no meu passado? Da perspectiva de hoje, esse valor adquiriu um novo significado?

Vou descrever, sucintamente (rs), a minha “cena”. Foi num natal. O “meu Richie” (que, no caso, era o Fernando), me deu de presente uma imagem de Nossa Senhora. Simples. Feita de gesso. Ele foi aprender a pintar em gesso e, com o maior esmero possível (pincéis, tintas, betume, etc.), fez a imagem. Com uma base de feltro, numa caixa de madeira, forrada de veludo... E eu... dei a ele a coleção completa dos discos (5 LP’s... que coisa! rs) de Woodstock! Conseguem imaginar o “conflito de valores” presente nos presentes? Ele não tinha grandes ambições na vida. Pra ele era “o máximo” ser professor de português e eu de filosofia. Ele queria, um dia, poder comprar um pequeno apartamento. Ele queria ter um cachorro, viajar nas férias (quem sabe, para alguma pousada...). Eu... queria muito mais!

Teve um natal, muitos anos depois (e eu, correndo atrás do “muito mais”), já casado, ela, que havia voltado de um congresso em Atlanta (USA), me trouxe de presente um “kit CK”. Três calças jeans, 4 polos, várias cuecas, meias, cinto, carteira, o escambau! Era uma maravilha! Era o “muito mais”, cada vez mais, enchendo os meus olhos e as minhas certezas de que eu estava certo. Que os meus valores valiam a pena.

Hoje, mais de 30 anos depois... o que foi feito do meu “kit”? A imagem da santa, essa ainda está comigo...




quarta-feira, 9 de abril de 2014

Thom Hell



Hoje, navegando por mares românticos. (rs) Deleitando-me com Thom Hell (Thomas Helland - 19/03/1976), cantor e compositor norueguês. Voz belíssima, ele faz um indie/pop muito melódico, gostoso... de se ouvir, também.  (rs)

Discografia
I Love You (2004)
Every Little Piece (2006)
God If I Saw Her Now (2008)
All Good Things (2010)
Suddenly Past (2012)
Six (2014)

Dúvida: será que no inferno tem disso? (rs)


segunda-feira, 7 de abril de 2014

Wish You Were Here

Essa música, do Pink Floyd (um dos meus “dinos”), foi escrita por David Gilmour para o companheiro de banda, Syd Barrett, depois que ele deixou a banda com sérios problemas mentais, agravados pelo uso descontrolado de drogas. Entretanto, ela também pode ser interpretada como um desabafo de uma pessoa que sente falta de outra.

Durante muito, muito tempo, essa foi a minha “música de cabeceira”... Década de 80, eu embarcando na primeira grande virada da minha vida e deixando pra trás uma bela história. Que podia ter dado certo. Ou não? Jamais saberei. Talvez seja esse o grande mal: eu queria, então, que a história acabasse. Mas, no fundo de mim, ela não acabou. Quem pode mandar nas coisas do coração?

Em busca de novos sonhos (e que a maioria eu transformei em realidade), achei por bem esquecer os antigos. Rebeldes, eles se amarraram com uma fita de cetim azul e continuaram “vivendo” num esconderijo, que só eles conheciam. Então, ao invés de sonhos esquecidos, eles se transformaram em sonhos escondidos. Essa música era a forma que eles tinham de se fazerem ouvir...


domingo, 6 de abril de 2014

Recordar # 1



Do latim, re-cordis: trazer de novo, tornar a passar pelo coração.

Criança, eu acreditava que as palavras eram como gente. E tinham família e moravam em casas. As casas das palavras. Onde os escritores costumavam passar (muitas vezes em sonhos) à procura daquelas que, ou desconheciam, ou que conheciam e haviam esquecido.

Em cada cômodo da casa escondiam-se as palavras. E os escritores percorriam, um a um, todos os cantos, tentando descobrir as palavras mais esquecidas, as mais antigas, as mais saborosas, as mais cheirosas, as mais táteis, as mais brilhantes, as mais empolgantes, as mais doces, as mais infinitas. E, principalmente, aquelas que os pudessem remeter às suas próprias infâncias, quando, crianças, acreditavam em casas onde habitavam palavras...




sexta-feira, 4 de abril de 2014

Give Up

O que há em mim é, sobretudo, cansaço...
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.

A sutileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto em alguém,
Essas coisas todas,
Essas e o que falta nelas eternamente;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.

Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada...  
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...

E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade, infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço,
Íssimno, íssimo, íssimo,
Cansaço...

Álvaro de Campos "Cansaço"


terça-feira, 1 de abril de 2014

Time Has Told Me



Hoje abordaremos mais um enigma sobre Nick Drake. Já foram analisados, à exaustão, por vários pesquisadores, muitos aspectos envolvendo a sua problemática e confusa trajetória de vida. Inclusive existe um documentário, à primeira vista muito bem feito, sobre sua vida e obra. Para quem tiver curiosidade, segue o link do vídeo legendado: A Skin Too Few.

Em minha singela opinião é um documentário “chapa branca”! (rs) Tudo o que é dito e mostrado foi cedido pela família, principalmente sua irmã. Explica-se muita coisa relacionada à personalidade depressiva dele... sua baixa autoestima (ele se achava feio e desengonçado, vê se pode!), a busca incessante pelo perfeccionismo musical (em nenhuma música tocada por violão, por exemplo, escutamos aquele “sonzinho” dos dedos deslizando pelas cordas... e quando acontecia, ele iniciava uma nova gravação!), o uso de drogas, etc. E, nenhuma palavra sobre o seu lado sentimental e amoroso! Bem estranho, né!

Fato: ele nunca foi visto ou teve oficialmente um relacionamento amoroso. Especula-se muito sobre uma possível homossexualidade, negada pela família. Possível? Vou me ater a apenas uma de suas músicas que trata mais diretamente sobre o “encontro do amor”. Trata-se de Time Has Told Me, primeira faixa do primeiro álbum (Five Leaves Left de 1969).

Primeira “curiosidade”: entre suas diversas manias, Nick era um organizador sistemático e meticuloso de todas as suas coisas. Por exemplo, todos os manuscritos das letras de suas músicas eram cuidadosamente arquivados por ordem cronológica. E mais: ele sempre anotava em que condições escrevia, onde, como e, mais importante, para quem ele dedicava a canção.

E não é que o manuscrito de Time Has Told Me sumiu! Ninguém sabe, ninguém viu... Mas, só esse? Não! Mais uns 4 ou 5... justamente de músicas mais, digamos, “reveladoras”. Inclusive de uma das mais famosas (e de que eu mais gosto!), Northern Sky. Dessa falarei em outro post. (rs) Fiquemos apenas na que nos propomos analisar...

Em primeiro lugar, é uma canção dirigida a alguém (o que não é comum na maioria das outras músicas, sempre falando sobre si mesmo). Parece uma pessoa por quem ele, no mínimo, está apaixonado. Hipótese de trabalho (rs): seria alguma garota que ele conhecia. Um fato interessante: existem duas estrofes “espelhadas”... uma dirigida a ele mesmo e outra a uma “certa pessoa”. Vejamos:

Então deixarei aquilo que está me fazendo ser
O que eu realmente não quero ser
Deixo aquilo que está me fazendo amar
O que eu realmente não quero amar

Então deixe aquilo que está fazendo você ser
O que você realmente não quer ser
Deixe aquilo está fazendo você amar
O que você realmente não quer amar

Parece que ele está falando sobre obstáculos, inclusive incitando (a ambos!) que rompam com velhos padrões e que simplesmente amem o que deve ser amado... um ao outro! Correto? (rs) Qual a necessidade disso se esses versos fossem dedicados a uma mulher? Que obstáculos e padrões teriam que ser rompidos?

No documentário que citei, certa hora a irmã, comentando sobre alguns amigos dele diz mais ou menos o seguinte: " Muitas vezes, ele gostava de ir com algum amigo para a costa de Suffolk à noite. E sempre, na escuridão da noite, ele gostava de ficar ouvindo o som das ondas na praia...” Lembro-me disso ao ler esses versos:

E o tempo me disse
Para não pedir por mais
Algum dia nosso oceano
Vai encontrar a sua praia

Qual a dificuldade desse oceano encontrar a praia?

Enfim... só mais um detalhe (acho que matador!):

O tempo me disse
Você chegou com o amanhecer
Uma alma sem pegadas
Uma rosa sem espinhos

William Blake, um dos maiores poetas do romantismo inglês (de quem Drake gostava muitíssimo) e também muito “suspeito” quando o tema é homossexualidade, uma vez escreveu em um poema sobre um amor impossível (do tipo que “não ousa dizer seu nome”), que ele vinha sempre “feito alma que não deixa rastro... rosa infértil, mas sem espinhos...”. Mais alguma dúvida? (rs)