Ontem eu li essa crítica sobre a 1ª temporada da série “Looking”
(Um retrato dos defeitos que os gays não admitem ter). Apesar de bem construída, com muita “verdade” sendo
dita, acredito que existem alguns exageros. E o primeiro deles é certa
generalização conceitual a partir de uma simples e singela série de TV. E que,
convenhamos, está muito longe de ser uma obra de arte, ou um tratado filosófico
sobre a vida e o comportamento dos gays. Entretanto, como crítica, vale a pena se
dar uma “sapeada” (rs). Em especial, gostei da análise que ele faz do Patrick,
talvez o personagem principal da série.
Em uma conversa com um amigo (que, inclusive, chega a se
identificar, em alguns pontos com o dito personagem, rs), o papo acabou se
encaminhando para a questão dos valores que atribuímos à vida, às pessoas que
nos cercam, e como isso muda à medida que envelhecemos. Sei que isso é bem
chavão e, inclusive, tendendo à pieguice, mas não tenho dúvida: o nosso
envelhecimento, ou acúmulo de experiência de vida, como queiram, nos faz, por um
lento processo interno, rever uma série de valores que tínhamos na juventude.
Uma cena de “Looking” me tocou profundamente: quando o “namorado”
do Patrick, Richie (um jovem latino, pobre, sem muita ambição na vida, mas, a
meu ver, o único verdadeiro, sincero e sensível ali!), uma bela noite, como que
pra “selar” um compromisso, dá a ele um escapulário. O significado daquele
gesto, o sentimento envolvido, o querer o bem, a proteção oferecida pelo
escapulário, me tocaram demais. De certa forma eu já ganhei, um dia lá no
passado, um “escapulário”. Qual valor eu atribui a aquele gesto vivido no meu
passado? Da perspectiva de hoje, esse valor adquiriu um novo significado?
Vou descrever, sucintamente (rs), a minha “cena”. Foi num
natal. O “meu Richie” (que, no caso, era o Fernando), me deu de presente uma
imagem de Nossa Senhora. Simples. Feita de gesso. Ele foi aprender a pintar em
gesso e, com o maior esmero possível (pincéis, tintas, betume, etc.), fez a
imagem. Com uma base de feltro, numa caixa de madeira, forrada de veludo... E
eu... dei a ele a coleção completa dos discos (5 LP’s... que coisa! rs) de
Woodstock! Conseguem imaginar o “conflito de valores” presente nos presentes?
Ele não tinha grandes ambições na vida. Pra ele era “o máximo” ser professor de
português e eu de filosofia. Ele queria, um dia, poder comprar um pequeno
apartamento. Ele queria ter um cachorro, viajar nas férias (quem sabe, para
alguma pousada...). Eu... queria muito mais!
Teve um natal, muitos anos depois (e eu, correndo atrás do “muito
mais”), já casado, ela, que havia voltado de um congresso em Atlanta (USA), me
trouxe de presente um “kit CK”. Três calças jeans, 4 polos, várias cuecas,
meias, cinto, carteira, o escambau! Era uma maravilha! Era o “muito mais”, cada
vez mais, enchendo os meus olhos e as minhas certezas de que eu estava certo.
Que os meus valores valiam a pena.
Hoje, mais de 30 anos depois... o que foi feito do meu “kit”?
A imagem da santa, essa ainda está comigo...
sim esta questão de revermos valores com o passar do tempo é próprio do Ser ... bem, pelo menos para alguns pois, outros permanecem na mesmice. eu revi e revejo ainda muita coisa ...
ResponderExcluirQto à série assisti a primeira temporada e sinceramente não gostei muito não ... bem inferior a QF ...
QAF era outra vibe, Paulo! (rs) Hoje os tempos são outros. Em alguns aspectos, até mais conservadores.
ExcluirE quem diria que uma critica azeda pudesse render tanto, né?!
ResponderExcluirConfesso que salvo as generalizações e exageros, ainda gastei um tempo pensando...
E em relação aos "presentes", ainda que exagerado ou que os valores não estivessem em sintonia, vocês trocaram... lembra do "E o que você ganhou?!" :P
Muito bacana você ainda ter a Santinha... Abração.
Estou com o Latinha. Houve a troca. Que bom.
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