terça-feira, 29 de abril de 2014

Ti’aninha

Ela se chamava Ana e era uma tia. Tia Ana... Aninha... Ti’aninha. Na verdade, tia-avó. Solteirona. Encalhada, como ela mesma dizia. Quando eu era criança pequena lá em... (rs) ela já estava mais relax com a vida. Devia ter mais de 60 anos (era mais velha que minha avó). Entretanto, seu jeito desbocado, vendo malícia em tudo, ainda era bem vivo. Sabe aquele tipo familiar que todos diziam “não tem jeito... só morrendo...”? Qualquer frase, qualquer palavra que, porventura, abrigasse a mínima possibilidade de um duplo sentido e lá vinha ela com seus “desbocamentos”. Eu, na minha inocência pueril (kkkkk) sempre achava engraçada aquela forma despachada dela encarar a vida.

Um dia, já mais crescidinho, num dos meus costumeiros papos noturnos com minha avó, fiquei sabendo de toda a sua história. Mocinha ainda, vivendo num sítio no interior de São Paulo, família italiana, era um “pega-pra-capar” para que ela fosse uma menina comportada. E dá-lhe catecismo, conselho de padre, água benta, benzeção (rs) e nada parecia funcionar. Ela, pelo visto, queria apenas uma coisa nessa vida: dar! Não podia ver calça comprida (e, segundo a minha vó, nem curta!), que já se assanhava toda. Vivia atrás dos peões, dos roceiros, apesar da vigilância dos pais. Mas, como diz aquele velho ditado, “água morro abaixo...”, um dia foi! Inaugurada, não parou mais. Nas redondezas não houve homem, acima de 15 e abaixo de 60 que não a tenha “conhecido”.

E quando se mudaram pra São Paulo, então, aí que a coisa tomou proporções gigantescas. Como era a única da família que não trabalhava fora (acho que por motivos óbvios, rs) ela ficou encarregada dos afazeres domésticos. Segundo consta,  de pedreiros, marceneiros, tintureiros, verdureiros... de motorneiros de bonde, motoristas de ônibus e cobradores, vendedores domiciliares em geral, inclusive de carnê do baú, sem preconceito de cor, religião, tamanho, procedência, ela experimentou diumtudo! (rs) E, nada de dinheiro na parada. Era pelo puro prazer de desfrutar da “coisa”.

Quando ficou mais madura virou religiosa. Dizem as más línguas que continuou a sua saga, agora em novas frentes de combate. Padres, sacristãos, coroinhas, meninos do catecismo... era uma verdadeira vocação religiosa se manifestando! (rs) E, incrível, nunca engravidou! Apesar de nunca ter usado nada que impedisse uma gravidez. Dizia que filhos atrapalhariam demais sua vida, nasceu sem o instinto maternal. Já bem velhinha, só se lamentava de uma coisa: não ter estocado uma coleção de canivetes suíços! Não foi previdente...

E você? Tem, conhece, ou é um(a) Ti’aninha? (kkkkkk)


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