sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Buber e Eu (Post Revisado)



(Republicando uma postagem antiga – porque deu vontade - que ninguém leu/entendeu... acho que continuará com o mesmo status! rs Inspirado em Martin Buber)

Parece evidente (a não ser que estejamos totalmente loucos) que NÃO existe o EU isolado, mas somente o EU de uma relação. Qualquer situação cotidiana nada mais é do que a relação que vincula o homem ao mundo e a um OUTRO que não ele mesmo. No evento da relação, de um lado está o EU em sua abertura essencial/fundamental/vital... e do outro lado?

O homem pode relacionar-se de duas formas com os outros seres/coisas/fatos: tomando-os por objetos ou colocando-se na PRESENÇA deles. Essas duas atitudes são expressas por aquilo que podemos denominar como palavras-princípios: “EU – ISSO” e “EU – VOCÊ”. Como parece por demais óbvio que as duas palavras-princípios podem ser denominadas por NÓS, me abstenho de discorrer acerca desse conceito.

Apenas como reforço: não há EU em si, mas apenas o EU da palavra-princípio EU - VOCÊ e o EU da palavra-princípio EU - ISSO. Quando o homem diz EU, ele se refere a um dos dois princípios. Lembrando que o segundo membro da palavra-princípio pode ser: outro homem, um bicho de estimação, uma árvore, uma casa, uma pintura, Deus, etc.

EU - ISSO
O ser humano percebe, experimenta, representa, quer, sente ou pensa alguma coisa, mas tudo isso que se refere como atividades do âmbito dos verbos transitivos, são da esfera do ISSO. Entretanto, o EU da palavra-princípio EU - ISSO, o EU com o qual nenhum VOCÊ está face-a-face, presente em pessoa, mas que é cercado por uma multiplicidade de “conteúdos” tem só passado, e de forma alguma presente.

Em outras palavras, na medida em que o homem se satisfaz com as coisas que experiencia e utiliza, ele vive no passado e seu instante é privado de presença. Ele só tem diante de si objetos, e estes são sempre fatos do passado. O presente flui na experiência e só é captado no passado.

Objeto sempre se contrapõe a presença. Objeto é estagnação, parada, interrupção, ausência de presença. Porém é o objeto do conhecimento, que pode ser experimentado, descrito, lembrado, representado, reproduzido, nomeado, classificado, isolado, analisado, decomposto; em outras palavras, utilizado de acordo com a necessidade de um EU.

EU – VOCÊ
O mundo do VOCÊ tem um fundamento diferente. Quem diz VOCÊ não tem um objeto diante de si... não POSSUI nada, EMBORA permaneça em relação. Entre EU e VOCÊ não há fim algum, nenhuma avidez ou antecipação; e a própria aspiração se transforma, no momento em que passa do pensamento à realidade.

Todo meio é obstáculo. Somente na medida em que todos os meios são abolidos, acontece esse encontro.

A relação EU - VOCÊ acontece na PRESENÇA (no verdadeiro tempo presente!)... quando um VOCÊ se apresenta ao EU. É somente quando esta presença acaba que posso, então, descrever, situar, conceber, representar... CONHECER! Porém, quando isso acontece já não se trata mais de um VOCÊ!

A palavra-princípio EU - VOCÊ é originária... isso quer dizer, é anterior à relação EU - ISSO. Somente depois da atualidade da relação com o VOCÊ, é que posso referir-me, no passado, a essa relação. O EU - ISSO se dá no tempo passado. O tempo e o espaço fazem parte do mundo do ISSO, enquanto não fazem sentido algum para o mundo do VOCÊ.

Essa passagem do VOCÊ ao ISSO é INEVITÁVEL. Uma vez deixando de atuar, por mais exclusiva e intensa que a presença tenha sido na relação imediata, interpõem-se meios e o VOCÊ transforma-se em um objeto entre objetos.

Essa é a grande melancolia de nosso destino. Atualidade e latência alternam-se. Porem se o VOCÊ deve retornar à condição de coisa, da mesma forma os objetos podem novamente apresentar-se como um VOCÊ, saindo do reino do ISSO.

Eis uma verdade fundamental do mundo humano: somente o ISSO pode ser ordenado... somente o ISSO pode ser FALADO! As coisas não são classificáveis senão na medida em que, deixando de ser nosso VOCÊ se transformam em nosso ISSO.

Ao mesmo tempo, porém, cada ISSO pode tornar-se um VOCÊ, se entrar novamente no evento da relação. E essa é a esperança no mundo!

CONCLUSÃO
A partir da palavra-princípio EU - ISSO o homem é capaz de produzir conhecimento. O mundo do ISSO é seguro e inspira confiança: o homem domina seu objeto. Vários sujeitos poderiam referir-se a um mesmo ISSO, mesmo que para cada EU o ISSO representasse uma coisa diferente. Tal fato demonstra a absoluta necessidade desse tipo de relação.

Pode-se, portanto, considerar o mundo do ISSO como o mundo no qual se deve e se pode viver. Um mundo que oferece toda espécie de atrações e estímulos de atividades e conhecimentos. O homem não pode viver sem o ISSO, mas aquele que vive SOMENTE com o ISSO não é homem!

Portanto, o homem precisa do ISSO, mas só se REALIZA na relação com um VOCÊ. Somente pronunciando VOCÊ o EU se abre para o SER na sua totalidade. É se relacionando reciprocamente com um VOCÊ que nos tornamos EU plenamente!




9 comentários:

  1. ISSO prova que VOCÊ precisa SER menos chato e cair de n'ALGUÉM. Urgente!

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  2. Feat Nora Ney:
    “Ninguém me aaaaama,
    Ninguém me queeeeer,
    Ninguém me chaaaaama... “ (rs)

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  3. Lucas, vc tem o Ermão q é pura sabedoria ... para de reclamar e cai de boca ... rs

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    1. Pessoa que elocubra demais perde o foco na parte que importa (o "cu"), né Bratz?

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  4. Não conheço Buber como gostaria de conhecer, mas muito do que ele fala me parece familiar pelo que li de Fromm e Horney!
    Gostei!
    Aos amigos acima que parecem tão maravilhosamente resolvidos, deixa-se o respeito.
    Para vc eu deixo o meu entendimento que as relações interpessoais estão doentes, sim, como parece, Buber entendeu!
    bjs

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  5. Parece que eu entendi mais/menos/diferente dos outros....
    Mas assim, os 3 ou 4 ultimos paragrafos sao interessantes/claros....ou nao!

    Bj

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