domingo, 7 de junho de 2015

Zelota



“Não pense que eu vim trazer paz sobre a terra. Eu não vim trazer paz, mas a espada.”
(Mateus 10:34)

Eu ensaiava ler esse livro do historiador de descendência iraniana, radicado nos USA, Reza Aslan (lançado em 2013), há um bom tempo. Como costumo fazer com toda obra geradora de polêmicas, antes de ler o próprio livro cuidei de ler as muitas críticas e comentários, tanto as favoráveis, quanto as negativas. É um bom exercício, ao menos pra mim, pois ao ler a obra me sinto mais confortável (e abastecido) para melhor observar todos os pontos discutidos. Ontem, finalmente, me dispus a ler... há muito tempo que não “devoro” um livro de uma tacada só! Simplesmente não deu pra parar, antes de chegar ao final!

O tema central de sua pesquisa (foram anos de muito estudo comparativo de textos antigos, que abordassem todo o contexto histórico da época) nem é muito novo. Desde o século XIX muitos historiadores se debruçam à procura do Jesus histórico, o Nazareno e não o Cristo. Nas palavras de Aslan: “Este livro é uma tentativa de recuperar, tanto quanto possível, o Jesus da história, o Jesus antes do cristianismo (grifo meu): o revolucionário judeu politicamente consciente que, há 2 mil anos, atravessou o campo galileu reunindo seguidores para um movimento messiânico com o objetivo de estabelecer o Reino de Deus, mas cuja missão fracassou quando – depois de uma entrada provocadora em Jerusalém e um audacioso ataque ao Templo – ele foi preso e executado por Roma pelo crime de sedição. É também sobre como, após Jesus ter fracassado em estabelecer o Reino de Deus na terra, seus seguidores reinterpretaram não só a missão e a identidade de Jesus, mas também a própria natureza e definição do messias judeu.”

Óbvio que o livro não pretende conter “a verdade”, mesmo porque em ciência a verdade é sempre contingencial. Como historiador que faz ciência Aslan procurar “separar”, nas narrativas encontradas, o que é improvável (dado o nível de conhecimento atual) do que é impossível. E são muitos os casos de impossibilidades! Um bom exemplo é todo o processo de julgamento e condenação de Jesus. Ou mesmo o “massacre dos inocentes”, ao tempo do nascimento de Jesus, no reinado de Herodes, fato que simplesmente não tem o menor registro em toda a vasta documentação pesquisada.

Além disso, num trabalho minucioso de reconstituição de época, encontramos em seu livro uma descrição meticulosa da história e da geografia, o que ajuda em muito a reconstituir todo o universo em torno do Jesus histórico, um homem que desafiou a autoridade de Roma e a alta hierarquia religiosa judaica; um homem pleno de convicções, paixões e contradições, um revolucionário vindo das classes menos favorecidos. E de tentar entender as razões pela qual a Igreja Católica (a primeira organização do cristianismo em formato eclesiástico) optou por promover a imagem de Jesus como um mestre espiritual pacífico em detrimento do revolucionário.

Para quem se interessa por história, é um deleite.


5 comentários:

  1. Para mim seu post foi uma super dica de leitura! obrigaduuuuu!

    ResponderExcluir
  2. Boa dica para as férias!

    ResponderExcluir
  3. Sempre vi o Jesus histórico por este prisma e já li muitos dos evangelhos apócrifos q, de certa forma, mostram um pouco deste aspecto mais real do Jesus Humano.
    Super curioso em ler este livro ... gostei de sua sinopse sobre a obra ... vou ler ...

    Beijão

    ResponderExcluir
  4. Estive com ele em mãos a poucos dias... esta na fila, aguardando eu terminar os atuais.

    Bom saber que valerá a pena. Ele me atraiu...e muito.

    abraço

    ResponderExcluir
  5. Humm vale uma espiada!
    Vou olhar...

    Abração.

    ResponderExcluir