Houve um tempo em que eu acreditava ser possível construir
sonhos. Eu não os enxergava como nuvens efêmeras surgidas nas madrugadas e que
nos impeliria a querer transformá-los em realidades. Eu pensava algo oposto; eu
acreditava que, a partir de fragmentos do real (palpável) poderíamos, com nosso
puro esforço e dedicação, à luz do dia, construir sonhos reais em nossa
consciência e no mundo. Os sonhos eram, para mim, como uma potência latente,
pela qual cumpriríamos nossos desejos no mundo real.
Eu sentia essa potência em mim. Eu sabia que um caminho somente
seria tangível se houvesse a transformação de uma possibilidade (das muitas
existentes), por essa força que eu chamava sonho, em ordenação ativa da
realidade. Eu pensava assim. Eu agia assim. Vencer obstáculos, sem
necessariamente ter que destruí-los. Ao contrário, vencer implicaria (o quanto
de ingênuo eu era?) mais acolher que destruir. Pelos sonhos, compondo a
urdidura da vida, eu me sentia capaz de tecer o meu próprio destino.
Hoje sei que eu estava errado! Não basta a vontade, não
basta a potência. E como não existe (definitivamente!) essa “coisa” de destino,
tudo na vida não passa de um jogo entre o acaso, as imperfeições e as
instabilidades. E nesse jogo eu não tive sorte...
(E depois dos Temporais... 15/05/2004)
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Eu tinha acabado de entrar na faculdade de filosofia. Início
dos anos 70, a “barra” pesando horrores. Havia medo, era nítido, as pessoas
demoravam a confiar umas nas outras. Comigo, entretanto, até hoje não sei bem o
porquê, a sensação que eu vivia (e que me dominava) era de liberdade. Eu sentia
firmeza no que queria, inclusive para minha vida pessoal, mesmo sabendo de
todas as imensas dificuldades que teria de enfrentar. Tudo era hostil: o
ambiente político tolhendo o pensamento, os preconceitos em relação à
homossexualidade em proporções exponencialmente maiores do que hoje, a
incerteza que pairava sobre o futuro. E, apesar disso, mesmo hoje quando recordo
de tudo, a primeira ideia que me vem à mente é a tal sensação de liberdade. Eu
vivia a minha liberdade e tinha certeza que, mais alguns poucos anos, ela seria
plena.
Close to the Edge foi o meu primeiro contato com o Yes. Eu
estava na casa de um primo e a capa verde daquele disco, de uma banda que eu
nunca tinha ouvido falar, me chamou a atenção. E foi colocar na vitrola... se
eu fosse resumir todo o parágrafo anterior, nada melhor do que essa música.
Quantas vezes depois a ouvi?
Eu tinha, eu sempre tive tanta certeza, que um dia eu teria
alguém, que iria me acompanhar todos os dias da minha vida, não como em um
sonho, mas na realidade deslumbrante de um amor possível, tão concreto, tão ao
meu alcance, que eu conseguia até imaginar seu sorriso, toda vez em que, com ou
sem palavras, disséssemos que nos amávamos.
Yes ... And You And I! lindo isto ... mas ....
ResponderExcluirSua esperança ficou cativa no passado. A sua potencia não tem nada com isso, muito menos seus sonhos.....
ResponderExcluirJá parou para pensar que talvez o problema tenha sido a FALTA de potência e sonhos dos outros?
Não deveríamos nos sentir culpados por sermos mais fortes, ter mais sonhos, ter mais do que os outros....
bjs