O enredo não poderia ser mais simples: 18 anos após o início da Guerra do Líbano (1982 - 2000), alguns soldados, a maioria bem jovem e com pouca experiência militar, guardam o lendário forte de Beaufort (localizado na fronteira entre Israel e Líbano), construído durante a idade média, nos tempos das Cruzadas. Sua “missão” é pura e simplesmente manter domínio sobre esse posto, alvo sistemático de bombardeios do Hezbollah, que, diga-se de passagem, ocorrem quase sempre a esmo. A grande questão que se coloca, em princípio, é a falta de motivos por ainda não terem cruzado a fronteira, deixando tudo pra trás, e voltado pra casa, visto que a guerra está praticamente terminada. É isso! Desanimador para quem se dispõe a assistir 2 horas de filme lendo essa resenha, né!
Dirigido e escrito por Joseph Cedar (baseado no livro de Ron
Leshem, que colaborou no roteiro do filme) somos, lentamente, envolvidos não em
uma história de guerra, mas sim em diálogos e silêncios angustiantes, que
revelam um drama mais psicológica do que fisicamente desgastante. Na verdade
não há grandes riscos de morte para os “moradores” da muralha, a não ser por circunstâncias
atípicas, mandos superiores desconexos e erros estratégicos, que levam alguns
deles (o que é uma perda?) ao seu particular final. O que mais choca é
sabermos, desde o início, que esse fato ocorreu na realidade... uma das ações
mais absurdas e sem sentido que o exército de Israel já enfrentou, até hoje com
pouquíssimas explicações dos seus verdadeiros motivos.
Porém, a intenção de Cedar vai além do fato histórico. Sua
proposta é universalizar (através da impessoalidade dos protagonistas) os
muitos sentimentos envolvidos em experiências de alta tensão, falta de
motivação, de perspectiva... falta de sentido de humanidade. É daí que brota a
despersonalização dos personagens. Não existem heróis, nem bandidos, ou figuras
principais e coadjuvantes. Isso pode causar uma certa estranheza, pois estamos
acostumados a nos afeiçoar a certos tipos, desgostar de outros. Em Beaufort
temos dificuldade em desvendar quem é quem durante o desenrolar da trama. Então,
passamos a identificar apenas sentimentos. Angústia, desespero, dor, vazio, raiva,
indignação... medo. É um filme que exige uma predisposição absurda para que
possamos encarar esse desfile do sombrio, do lado apavorante de estar vivo.
Certas cenas, momentos surpreendentes, conseguem nos tocar
no mais fundo da nossa alma. Por vezes, no meio daquela angustiante sucessão de
sem sentido, os sentimentos afloram nas superfícies pessoais (rostos, olhares, gestos,
palavras, atitudes) de algum dos personagens. São momentos em que conseguimos
nos identificar! É uma sensação deslumbrante! É como se nos déssemos conta que,
afinal são homens, com suas cargas de anseio, com suas histórias... são pessoas
que só almejam ser felizes. Entretanto, esses momentos são fugazes e, logo em
seguida, nos vemos novamente mergulhados na pasta negra, da qual parece impossível
se desgrudar.
Escolhi uma das cenas mais dolorosamente bela, para dar uma
ideia da “vibe” (rs) que domina o filme. Após a morte de um soldado, por uma
bomba que destruiu a guarita de vigia, o comandante da tropa (um jovem de 22
anos... mais uma entre tantas coisas absurdas) pede a um companheiro que cante
em sua homenagem. Parêntesis: essa música foi composta por Eviatar Banai e
acabou virando quase um hino, entoada nos movimentos de protesto
antimilitarista, ou em funerais de soldados.
Durante grande parte do filme vemos dois soldados, trocando
olhares, palavras, insinuações, mas só um olhar atento (como o meu, por
exemplo, rs) consegue perceber a existência de algum sentimento maior entre
eles. Lembrando que o diretor do filme não é o Eytan Fox, senão tudo ficaria
bem mais evidente. É tudo muito frio, o cenário, os personagens. Um dos dois
desses soldados acabou de ser estilhaçado por uma bomba e o outro, que
pretensamente o amava, está ali, imóvel, mergulhado na mesma frieza. Então,
pela música, a sensação de tristeza/desespero/dor pela perda desse alguém que
se amava vem à tona, descontroladamente! A cena é antológica!
Parece ser super interessante, quero ver ...
ResponderExcluirEita que esse povo da terrinha precisa aprender um filminho com final feliz, nzé?!
ResponderExcluirTudo bem que se a gente considerar o Eytan Fox, tem uma baita evolução entre Yossi & Jagger e o Yossi (2012)... mas os demais... quanta "sofrência" ;-)
Filme tenso hein... só não vou assistir por motivos de... estou precisando de histórias com final feliz! ehehehe
Abração.