... interessado, interesseiro. Ah, o poder dos sufixos! (rs)
Interesse: uma disposição (a priori) de juízo, que dirige
uma ação ou atividade. E que não é a mesma coisa que motivo, ou motivação, que
pode prescindir da existência do interesse, como ocorre, por exemplo, quando
fazemos algo apenas para obter algum reconhecimento, independente de existir um
interesse real sobre a ação. Mas, vamos ao que interessa (rs): agreguemos uma
singela palavra (conceito) a essa discussão... moral!
Falemos da Moral, com “M” maiúsculo, aquela que independe de
qualquer sentido religioso, ou de qualquer noção de intenção como seu elemento formativo...
a moral que tem o “dever” como seu fundamento único. O comando moral primário que
faz com que nossas ações sejam moralmente boas, se expressa no seguinte
imperativo: “age só segundo a máxima tal que possas ao mesmo tempo querer que
ela se torne lei universal”. Esse imperativo é uma “forma a priori pura”,
independente do útil ou prejudicial, da motivação ou interesse. É uma escolha
voluntária racional, por finalidade e não causalidade. Por ela superam-se os
interesses e impõe-se o ser moral, o ser do dever. O dever é o princípio
supremo de toda a moralidade! Dessa forma uma ação é certa quando realizada por
um sentimento de dever. E a razão é a única condição a priori da vontade,
portanto, independente da experiência.
Os imperativos gerais da vida humana ordenam o mundo, e são “fórmulas”
para exprimir as relações entre o que queremos objetivamente, e o que a nossa subjetividade
imprime à vontade. Assim, temos aqueles casos em que as ações são boas como
meio para qualquer outra coisa, ou seja, em vista de algum propósito. Por
exemplo, o comerciante que pratica preços justos para se sobressair diante de
outros que não o fazem. Ele pratica uma ação justa, mas não essencialmente
moral.
O imperativo categórico do dever não é (nem pode) ser limitado
à condição alguma! Todos os outros podem ser denominados de princípios da
vontade, mas não leis. “O mandamento incondicional não deixa à vontade nenhum
arbítrio acerca do que ordena, só ele tendo, portanto, em si, aquela
necessidade que exigimos na lei... A vontade não está, pois, simplesmente
submetida à lei, mas o está de tal maneira que possa ser também considerada
legisladora ela mesma, e precisamente por isso então submetida à lei”
Ora, sendo a razão o único parâmetro a guiar nossas máximas
como princípio de vida, temos que os outros princípios, baseados em outros
motivos constituem o que podemos chamar de “não morais”, ou “maus” (como transgressão
dos limites da razão). E na maldade a avaliação que se faz dos pensamentos é,
portanto, corrompida na origem.
Só mais uma palavra: solipsismo. (rs) Sabe aquela ideia de
que nada existe (ou merece existir!) além de nós mesmos e de nossas
experiências? E que vem a ser uma relação patológica consigo mesmo? E que se
refere ao nosso sistema de inclinações (desejos, impulsos... interesses...)
guiados pelo amor de si ou felicidade própria? Pois então, deveras distante de
uma fundamentação moral legítima e universal...
PS: As citações entre “aspas” são de Kant (rs)