terça-feira, 24 de abril de 2018

Ein Weg



Imagem de abertura: uma pequena cidade alemã, com jeito de cidade medieval, uma torre de igreja próxima às nuvens baixas, os telhados das casas emoldurados por colinas, outono (aliás, em todas as cenas, ou estamos no outono chuvoso, ou no inverno... sol, sem chance!). Barulhos de martelo e serra de uma oficina de carpintaria. Um chat de vídeo: o carpinteiro conversa com seu "amigo"... está assinalado o ritmo do filme inteiro. Cinema alemão. Adoro cada vez mais! Frio, racional, intimista, mas que esconde uma torrente de sentimentos! Gosta quem tem olhos que enxergam além das palavras...

Andreas, um carpinteiro, e Martin, um florista, são dois homens na faixa dos 40 anos, juntos há mais de 13 anos. Eles formam uma família com um filho de 18 anos, de um relacionamento heterossexual anterior de Andreas. Será explorada a condição de “ser gay” dos dois como um problema? Não. Será contada uma linda e romântica história de amor (afinal, 13 anos não são 13 dias!) vivida entre essas pessoas tão comuns? Não. O filme, na verdade, nos conta “o que vem depois” de onde a maioria dos filmes de amor gay termina. Ou, dito de outra forma, o que vem depois de quando a paixão termina, mas o amor continua. Porque (acredito piamente!) amor e paixão são coisas diferentes. Embora possam ser complementares. Aliás, em geral (rs), a paixão costuma ter prazo de validade: estimo em no máximo 2 anos. Sou bonzinho, né!

O que acontece quando a paixão termina e o amor continua? Várias coisas... a mais angustiante pra mim (ironia das ironias): o que era visto como o “charme” da relação apaixonada, passa a ser seu maior entrave. Falo das diferenças de gosto, de modos de ver o mundo, atitudes diante da realidade, do cotidiano, etc. Pode ser que (é apenas uma hipótese, rs) nos apaixonemos exatamente quando vemos um outro bem diferente do que somos. Sabe a história das “metades que se complementam”? Enfim, o que foi motivo de atração...

As cenas que expõe o relacionamento não são espetaculares; o filme salta entre elas, para frente e para trás no tempo - 13 anos antes, 9 anos depois – e o que permanece é a decoração da parede do quarto deles, onde são colocadas as fotos (Martin adora fotografia) dos “melhores momentos” das suas vidas. Por que Martin e Andreas se apaixonaram? Isso não nos é mostrado de modo tangível. E acredito nem ser necessário. Mesmo os conflitos que marcam as suas vidas nunca ficam tão evidentes. Raramente são verbalizados, apesar de explodirem a todo momento em nossa frente.

A estreiteza da perspectiva da cidade pequena, cinzenta e fria é a própria estreiteza que surge quando a paixão termina. As simbologias, no entanto, sobrevivem. Especialmente quando o amor não morre. E, meus caros, se ele é verdadeiro, morre jamais!

Vale demais a pena ver!


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