Imagem de abertura: uma pequena cidade alemã, com jeito de cidade medieval, uma torre de igreja próxima às nuvens baixas, os telhados das casas emoldurados por colinas, outono (aliás, em todas as cenas, ou estamos no outono chuvoso, ou no inverno... sol, sem chance!). Barulhos de martelo e serra de uma oficina de carpintaria. Um chat de vídeo: o carpinteiro conversa com seu "amigo"... está assinalado o ritmo do filme inteiro. Cinema alemão. Adoro cada vez mais! Frio, racional, intimista, mas que esconde uma torrente de sentimentos! Gosta quem tem olhos que enxergam além das palavras...
Andreas, um carpinteiro, e Martin, um florista, são dois
homens na faixa dos 40 anos, juntos há mais de 13 anos. Eles formam uma família
com um filho de 18 anos, de um relacionamento heterossexual anterior de
Andreas. Será explorada a condição de “ser gay” dos dois como um problema? Não.
Será contada uma linda e romântica história de amor (afinal, 13 anos não são 13
dias!) vivida entre essas pessoas tão comuns? Não. O filme, na verdade, nos
conta “o que vem depois” de onde a maioria dos filmes de amor gay termina. Ou,
dito de outra forma, o que vem depois de quando a paixão termina, mas o amor
continua. Porque (acredito piamente!) amor e paixão são coisas diferentes. Embora
possam ser complementares. Aliás, em geral (rs), a paixão costuma ter prazo de
validade: estimo em no máximo 2 anos. Sou bonzinho, né!
O que acontece quando a paixão termina e o amor continua?
Várias coisas... a mais angustiante pra mim (ironia das ironias): o que era
visto como o “charme” da relação apaixonada, passa a ser seu maior entrave.
Falo das diferenças de gosto, de modos de ver o mundo, atitudes diante da
realidade, do cotidiano, etc. Pode ser que (é apenas uma hipótese, rs) nos apaixonemos
exatamente quando vemos um outro bem diferente do que somos. Sabe a história
das “metades que se complementam”? Enfim, o que foi motivo de atração...
As cenas que expõe o relacionamento não são espetaculares; o
filme salta entre elas, para frente e para trás no tempo - 13 anos antes, 9
anos depois – e o que permanece é a decoração da parede do quarto deles, onde
são colocadas as fotos (Martin adora fotografia) dos “melhores momentos” das
suas vidas. Por que Martin e Andreas se apaixonaram? Isso não nos é mostrado de
modo tangível. E acredito nem ser necessário. Mesmo os conflitos que marcam as
suas vidas nunca ficam tão evidentes. Raramente são verbalizados, apesar de
explodirem a todo momento em nossa frente.
A estreiteza da perspectiva da cidade pequena, cinzenta e
fria é a própria estreiteza que surge quando a paixão termina. As simbologias,
no entanto, sobrevivem. Especialmente quando o amor não morre. E, meus caros,
se ele é verdadeiro, morre jamais!
Vale demais a pena ver!