“Quando me ponho às vezes a considerar as diversas agitações
dos homens, e os perigos e trabalhos a que eles se expõem, na corte, na guerra,
donde nascem tantas querelas, paixões, cometimentos ousados e muitas vezes
nocivos, etc., descubro que toda a miséria dos homens vem duma só coisa, que é
não saberem permanecer em repouso, num quarto. Um homem que tenha o bastante
para viver, se fosse capaz de ficar em sua casa com prazer não sairia para ir
viajar por mar ou por cerco a uma praça-forte. Ninguém compraria tão caro um
posto no exército se não achasse insuportável deixar-se estar quieto na cidade;
e quem procura a convivência e a diversão dos jogos é porque é incapaz de
ficar, em casa, com prazer.
Mas quando pensei melhor, e que, depois de ter encontrado a
causa de todos os nossos males, quis descobrir a razão desta, achei que há uma
bem efetiva, que consiste na natural infelicidade da nossa condição frágil e
mortal, e tão miserável que nada nos pode consolar quando nela pensamos a
fundo.”
(Blaise Pascal, in "Pensamentos")
O título do post é uma referência a um dos livros (Humano,
Demasiado Humano) mais importantes de Nietzsche e que, de certa forma, agudiza
o pensamento de Pascal. Quem sabe essa aproximação temática não deva ser digna de
um estudo mais pormenorizado! Em linhas gerais, ambos tratam do vazio, inerente
ao estatuto do homem, esse ser sem origem, posto que seu nascimento lhe é
inacessível e cuja morte é a única certeza anunciada. Em Nietzsche a “solução” para o vazio está no
superar-se o próprio destino, tomando-o nas mãos, mesmo com a consciência do
seu final. Em Pascal, bem mais pessimista, o homem, que não é senão a dobra
daquilo que lhe é exterior, deve se organizar pelo “eu” (... essa ficção
inventada pela esperança de se sentir minimamente organizado... essa parte é
minha mesmo, rs) diante desse mundo exterior. Dureza, demasiada dureza!
O tema é o mesmo, tratado magnificamente nessa música do
Eviatar Banai. Nada como o poder sintetizador da poesia...
Que jogo sensaciional vc nos propôs ... O jogo filosófico de Nietzsche e Pascal com a sensibilidade de Eviatar Banai ... Lindo ...
ResponderExcluirBeijão